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Será que estamos mesmo no Verão?

O que Agosto nos reservará é a incógnita

Está agora a fazer um ano que tivemos alguns dias de canícula realmente séria. Diziam os produtores de vinho que esse escaldão fazia prever o pior para a colheita de 2018. Com calor excessivo muitas uvas transformam-se em passa e o isso faz baixar tremendamente a acidez nos bagos. Tudo junto dá aquilo que ninguém gosta, ou seja, mostos desequilibrados. No entanto quando se chegou à vindima e à hora do ajuste de contas com o clima, o que se verificou foi (quase) inexplicável: a acidez não tinha quebrado e, apesar dos dias excessivamente quentes, os mostos estavam com um equilíbrio ácido notável. Ninguém tinha uma explicação plausível porque o fenómeno contrariava o saber livresco. Foi uma espécie de lição de humildade que a Natureza deu aos técnicos, como que a dizer “julgam que sabem tudo mas afinal ainda há coisas que vos surpreendem”. Foi também por isso que o 2018 resultou num ano cheio de virtudes apesar da baixa da produção. Bom vinho em brancos, tintos e generosos. A verdade é que, por prudência, daqui até à vindima (a começar, em brancos, dentro de uma semana) ninguém quer dar palpites, é esperar para ver. Vamos dizer baixinho, para ninguém ouvir que até aqui “a coisa” está a correr lindamente…! Os vinhos que sugiro hoje são todos de 2018 e um deles – o tinto de Carvalhais – tem algo que merece ser explicado, até porque contraria o que foi prática habitual na região. Os tintos do Dão ganham com o tempo de cave mas este tinto foi feito para não precisar de cave; foi pensado para ser bebido o mais novo possível, sem amparo da madeira, pouco extraído, sem taninos evidentes, apostando tudo na fruta fresca e com uma elegância desarmante. É um novo Dão, não melhor nem pior do que estávamos habituados mas que serve para mostrar que também ali é possível fazer diferente e continuar a fazer bem. O branco de Valle Pradinhos é um velho conhecido, dos primeiros brancos nacionais a apostar em castas de fora, neste caso da Alsácia, em conúbio com a nossa Malvasia Fina. O resultado, com pequenas variações anuais, é sempre surpreendente porque a Gewürztraminer é de tal forma diferente das nossas castas brancas que merece uma prova atenta. Apesar do nome difícil, é das mais fáceis de adivinhar em prova cega já que os seus marcadores de casta são muitíssimo originais, com cheiros de rosas e lichias. Esta variedade, se não for bem trabalhada, pode tornar-se muito enjoativa mas aqui, em bom balanço com a Riesling resulta especialmente bem. É sempre melhor se bebido jovem. O Duas Quintas Reserva já há muito que ganhou espaço na lista dos melhores brancos da região. E este branco diz-nos algo muito importante: não se é um grande vinho por ter tido uma edição de grande qualidade. A palavra grande anda indissociavelmente ligada à palavra consistência, algo que, sem exagerar, requer pelo menos dez anos de boas edições em continuação sempre com a qualidade em alta. Muitos querem, mas poucos atingem.

Sugestões da semana:
(Os preços, meramente indicativos, foram fornecidos pelos produtores)

Duas Quintas Reserva branco 2018
Região: Douro
Produtor: Ramos Pinto
Castas: cinco castas com origem nas quintas da Ervamoira e Bons Ares
Enologia: Teresa Ameztoy
PVP: €19,50
Cerca de 25% do mosto fermentou em barrica e o restante em inox. Todas as castas do lote são autóctones mas a Rabigato (73%) domina.
Dica: o equilíbrio entre a fruta e a barrica é perfeito, resulta um branco de requinte a pedir peixes delicados ou marisco apenas cozido.

Carvalhais Mélange à 3 tinto 2018
Região: Dão
Produtor: Sogrape
Castas: Touriga Nacional, Tinta Roriz e Alfrocheiro
Enologia: Beatriz Cabral de Almeida
PVP: €5,99
Novo produto da quinta dos Carvalhais e que terá uma composição de castas variável conforme o ano. Um tinto jovem e descomprometido.
Dica: vivaço no aroma, cheira a novo, pleno de frutos vermelhos. Um vinho glu-glu para pratos simples de Verão. Beba mais fresco do que habitual.

Valle Pradinhos Reserva branco 2018
Região: Trás-os-Montes
Produtor: Maria Antónia Azevedo
Castas: Malvasia Fina, Riesling e Gewürztraminer
Enologia: Rui Cunha
PVP: €14,50
Um clássico já com décadas, a mostrar as virtudes da zona de Macedo de Cavaleiros para a produção de excelentes vinhos.
Dica: aromaticamente rico e muito fresco, notas de lichias e aromas tropicais. Pode mesmo ser consumido a solo.

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