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Chegou a nossa vez?

Bordéus descobre as castas portuguesas

Há que tempos que, enquanto nação produtora, andamos a falar da originalidade das nossas castas. Temos muitas, tal como outros países da bacia do Mediterrâneo e não seria por aí que, portanto, nos iríamos destacar. A nossa “bandeira” são as castas que, em número mais elevado que noutros países, são mesmo nossas, ou seja, nasceram por cá em vez de terem sido trazidas por outros povos que nos visitaram. Serão, em contas recentes, cerca de 250 variedades nacionais. Além destas temos muitas outras que nos chegaram vindas de fora, algumas recentemente outras há muitos, muito anos. Para além das ubíquas Chardonnay, Sauvignon Blanc, Viognier, Cabernet Sauvignon, Merlot, Pinot Noir e Syrah temos várias outras que são verdadeiros “new kids on the block”, vieram por gosto dos produtores, por teimosia ou outra qualquer razão, como a Sangiovese, Tannat, Greco di Tufo, Marsanne ou Roussanne, por exemplo. Já há muito que se fala da exportação das nossas melhores castas, como a Touriga Nacional, para zonas tão longínquas como a Califórnia, a Argentina ou mesmo a Austrália. Até aqui também não é grande a novidade mas a surpresa chega agora de Bordéus onde terá sido considerada a hipótese novas castas para fazer face ao aquecimento global. Os franceses costumam ser muito conservadores na legislação que diz respeito ao vinho e Bordéus ainda mais que outras zonas da França. Basta lembrar que a classificação dos grandes vinhos bordaleses data de 1855 e que a demarcação actual e respectiva legislação data – tal como a quase totalidade das demarcações francesas – de 1936; de então para cá quase nada mudou e por isso ainda mais surpreendente é que na proposta de novas castas a serem admitidas nos lotes de Bordéus esteja a nossa Touriga Nacional e a minhota/galega Alvarinho. Além destas, fala-se em Arinarnoa, Castets, Marselan (presente ente nós), Petit Manseng (já por cá anda) e Liliorila. Não se espera nem é desejável que as novas variedades sejam admitidas em percentagem tal que alterem de vez os perfis dos vinhos de Bordéus e também não é de crer que os seus nomes apareçam nos rótulos uma vez que, por lá, tal prática está interdita. No entanto não deixa de ser com um sorriso que vemos as nossas castas brilharem lá, onde é mais difícil entrar. É, para mim, claro que a casta se deveria chamar Touriga Portuguesa mas essa é uma guerra perdida. Fica também por listar as outras variedades nacionais que poderiam fazer grande figura num “Novo Mundo Vitícola”, já enjoado de Chardonnay e Viognier e das parceiras tintas. Quem sabe, assim, se não vamos “exportar” a Touriga Franca, a Alfrocheiro, a Trincadeira e a Castelão, a Arinto e Antão Vaz e, hipótese plausível, reexportar a Alicante Bouschet, antigamente proscrita e desprezada e hoje muito apreciada. E, ironia do destino, os franceses irão redescobrir a Petit Verdot que usavam pouco porque não amadurecia. Ora, com calor à vista, há para ela uma nova vida. São assim as castas.

Sugestões da semana:
(Os preços, meramente indicativos, foram fornecidos pelos produtores)

Atlantis rosé 2018
Região: DOC Madeirense
Produtor: Madeira Wine Company
Casta: Tinta Negra
Enologia: Rui Reguinga/Francisco Albuquerque
PVP: €7,16
Eis um belo rosé madeirense nascido uma ilha conhecida sobretudo pelo seu generoso. Vivo e muito fresco, uma boa surpresa para quem não conhece. 30 000 garrafas produzidas.
Dica: seco quanto baste (6 gr/açúcar por litro), mostra boa aptidão para acompanhar marisco ou pratos leves de Verão. E na esplanada também vai funcionar muito bem.

Cartuxa branco 2017
Região: Alentejo
Produtor: Fundação Eugénio de Almeida
Castas: Antão Vaz e Arinto
Enologia: Pedro Baptista/Duarte Lopes
PVP: €9,90
O vinho é sempre colocado à venda no segundo ano porque faz um prolongado estágio em cuba de inox sobre borras, ganhando com isso muito mais complexidade. Branco de referência da Fundação, lançado pela primeira vez em 1990.

Dica: um branco sempre com algum peso, pensado para a mesa. Peixes no forno ou mesmo caldeiradas serão grandes parceiros para ele.

Oboé Vinhas Velhas tinto 2016
Região: Douro
Produtor: Comp. dos Vinhos do Douro
Castas: vinhas velhas com castas misturadas
Enologia: José Miguel Almeida
PVP: €18
Muito boa harmonia de conjunto, ganhou em elegância e finura em relação a edições anteriores. Está agora um belo tinto que não cansa e que apetece consumir.
Dica: perfeito para churrascos de ar livre ou carnes estufadas. Não servir à temperatura ambiente, servir à temperatura certa (17º).

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