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Preços, prazeres e desgostos

Uma conversa sem fim à vista

Os vinhos que seleccionei esta semana têm um traço comum: são caros e um deles, o Porto Colheita, além de caro, é arrasador. Desta evidência partimos para outra interrogação: como chegámos aqui e até onde iremos? Curiosamente dei comigo a ler uma das minhas antigas crónicas onde, literalmente, deitava as mãos à cabeça porque havia um produtor que se atrevia a colocar o seu vinho branco na casa dos €20. Ora hoje, se fizermos as contas ao país todo (contas difíceis e que eu não fiz…) são muitas as dezenas de vinhos cujo preço se situa acima daquele valor. Este é, por muito que isso custe a aceitar à maioria dos consumidores, o caminho natural dos vinhos quando a qualidade o justifica. Já escrevi e repito: nenhum país, nenhuma região, nenhum produtor pode ambicionar fazer parte da “liga dos campeões vínicos” a vender vinhos a €3; pode enriquecer, pode expandir-se, pode exportar para todo o mundo e arredores mas…nunca vai deixar de ser um produtor €3! É verdade que a esmagadora maioria dos consumidores é esse tipo de vinho que procura: vinho bem-feito, limpo, agradável no aroma, saboroso na boca e que ligue bem com a comida. Os franceses têm para estes vinhos um nome curioso: vin boisson, algo que bebemos e nos esquecemos uma hora depois; são vinhos que obedecem a uma fórmula técnica, resultando sempre bem-feitos mas iguais, sejam feitos no Douro ou no Algarve, à beira-mar ou na fronteira com Espanha. Temos alguns exemplos entre nós, vários deles na região de Lisboa e Setúbal e muitos também no Alentejo. Neste capítulo específico estamos hoje muito melhor do que estávamos há 30 anos, agora há vinhos correctos em todas as gamas de preços e aqueles vinhos horrorosos, que na Bairrada chamam os “vinhos ai Jesus…” e noutras regiões terão seguramente uma outra designação igualmente lamentosa, esses vinhos desapareceram do mercado. Mas os caros são – ou têm obrigação de ser – vinhos que nos impressionam os sentidos, que nos transportam para uma zona específica, seja de solo seja de clima, que gostamos de beber devagar e falar sobre eles. Na prova de vinhos do Douro (DOC e Porto vintage) que teve lugar na Régua e que relatei na anterior crónica, estive a fazer uma pequena estatística dos preços dos brancos em prova: dos 42 brancos disponíveis (e a região tem muitos mais…), 10 custavam mais de €20 mas, destes, 6 tinham preço acima dos €30 e 4 acima de €40. Entramos então num templo de vinhos que se pretendem de sonho. Serão? Será seguramente o mercado a responder e uma venda maciça dirá que o preço está certo e que o produtor até o poderá subir. Se vendesse mais barato ainda ganhava dinheiro? Ganhava, mas o vinho é um negócio e nenhum produtor descarta a hipótese de vender caro. Entre outras razões, porque esse é o preço do prestígio. Cá e lá fora. Uns conseguem, outros não! Aqui (suspirando) entra a frase célebre de António Guterres…

Sugestões da semana:
(Os preços, meramente indicativos, foram fornecidos pelos produtores)

Quinta da Leda tinto 2016
Região: Douro
Produtor: Sogrape Vinhos
Castas: Touriga Franca, Touriga Nacional, Tinto Cão e Tinta Roriz
Enologia: equipa dirigida por Luis Sottomayor
PVP: €40
É já um clássico da região, produzido no Douro Superior. Evolui muito bem em cave. Não é barato mas vale amplamente o preço que se paga por ele.
Dica: este não necessita mas colheitas mais antigas precisam ser decantadas. Carnes maturadas grelhadas e pouco temperadas irão muito bem com ele.

Teixuga branco 2014
Região: Dão
Produtor: Caminhos Cruzados
Castas: Encruzado (maioritária)
Enologia: Manuel Vieira/Carlos Magalhães/Carla Rodrigues
PVP: €39,50
Fermenta em inox e depois barrica nova com estágio de 19 meses e mais um ano em garrafa. Bom potencial de vida em garrafa.
Dica: a cor mais carregada mostra a idade mas o vinho está em grande forma, complexo, muito rico, encorpado e de acidez perfeita. Luxo!

Porto Vista Alegre Colheita 1969
Região: Douro
Produtor: Vallegre
Castas: várias
Enologia: Fátima Lopes, César Pinacho e Miguel Martins
PVP: €290 (1200 garrafas engarrafadas em 2018)
Parte do lote continua em casco para engarrafamentos posteriores. A riqueza aromática e o gosto que apresenta são verdadeiramente sensacionais.
Dica: vinho do Porto de sobremesa, não requer acompanhamento mas deve servi-lo fresco.

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