Setúbal dá um passo em frente Tal como tinha anunciado na semana passada é hoje…
Nível para baixo?
Isto dos santos populares não augura nada de bom…
Parece que as sardinhas não vão abundar e os preços também não serão muito confortáveis mas o certo, certo, é que se aproximam as festividades dos santos populares e é suposto o apreciador de vinhos entrar num novo registo de consumo. Sempre a pensar na sardinha, no cheiro da dita na brasa, no fumo que se entranha na roupa, na algazarra das ruas e vielas, no ambiente descontraído, tudo em calções e havaianas, o enófilo vai à luta. Nesta altura todos esquecem os hábitos de consumo que religiosamente foram impondo (quando não, batalhando…) durante o resto do ano: vão esquecer os copos e a parafernália de modelos que usaram para diferentes vinhos; ninguém se vai lembrar da temperatura de serviço, das regiões demarcadas deixam de existir, vinho do norte, do sul, do leste e do oeste, todos têm o mesmo lugar nestas festividades. Por uma razão simples: ninguém sabe de onde vêm os vinhos, já que são servidos a jarro. É mesmo a jarro que o cliente quer, qual reminiscência longínqua do vinho que teria sido em tempos tirado directamente da pipa e que, agora, coisa dos tempos modernos, é tirado do pacote de bag-in-box. E estes vinhos de pacote são muitas vezes omissos quanto à região de origem ou mesmo o continente. Com sorte teremos direito a saber que foi produzido na União Europeia. É o mundo do vinho a granel, agora vestido de novas roupagens. E, quem sabe, vai calhar-nos na mesa um pacote cuja marca inclui a palavra Pias. Não será difícil já que existem mais de 100 marcas de vinho com aquela palavra mágica. É um verdadeiro estudo de caso e ninguém sabe ao certo o que terão feito os habitantes/produtores de Pias, pacata terra alentejana, para merecerem tão grande exposição pública. Entramos assim num período de amnésia voluntária no que ao consumo de vinho diz respeito. Uma coisa é certa: não é só o vinho que se vê relegado para níveis do fundo da escala, todo o resto da refeição acompanha este ambiente e situa-se no mesmo patamar; são bancos corridos, pratos miseráveis, pão ordinário que nos recusamos a comer no resto do ano, pacote de manteiga que chega quente à mesa, azeitonas sem sabor e por aí fora. E se começarmos a falar do azeite que nos propõem para temperar as batatas cozidas e do vinagre da salada, temos um quadro realmente deprimente. É verdade que o ambiente de rua e de bairro popular não puxa o assunto para outro nível mas ao enófilo restam sempre várias alternativas, sendo uma delas (a que mais vezes sigo nestes ambientes) que é beber cerveja, com as vantagens inerentes: sabemos o que estamos a beber, vem à temperatura certa, até podemos dispensar os copos e no final vamos perceber que escolhemos bem. Mas caso exista essa escolha na tasquinha que elegemos, podemos sempre recorrer ao espumante tinto, ao verde tinto e até pedir para que seja servido em malga, o tal recipiente que alguns acham adequado para beber vinho. Quem sabe ainda encontramos um verde tinto de Pias. Aí sim, os santinhos até se vão regalar lá onde estiverem. E viva o Santo António que eu sou alfacinha!
Sugestões da semana:
(Os preços, meramente indicativos, foram fornecidos pelos produtores)
Pasmados branco 2014
Região: Reg. Pen. Setúbal
Produtor: José Maria da Fonseca
Castas: Viosinho, Viognier e Arinto
Enologia: equipa dirigida por Domingos Soares Franco
PVP: €9,99
Sempre vendido com vários anos e por isso carregado na cor. Leve oxidação confere-lhe muito carácter, bom equilíbrio e com perfeita acidez.
Dica: um branco de sobremesa ou, ainda melhor, para queijos de pasta mole ou meia cura.
Manoella branco 2018
Região: Douro
Produtor: Wine & Soul
Castas: Gouveio, Viosinho, Rabigato e Códega do Larinho
Enologia: Wine & Soul
PVP: €12,90
A primeira colheita foi em 2018. Uvas do vale do Pinhão. Graduação muito ajuizada de 11,5º. Jovem, franco e directo na fruta.
Dica: um óptimo companheiro de petiscos de Verão, muito afinado e redondo.
Vale da Mata tinto 2016
Região: Reg. Lisboa
Produtor: Rocim
Castas: Touriga Nacional, Tinta Roriz e Syrah
Enologia: Pedro Ribeiro/Catarina Vieira
PVP: €9,50
Vinificação em balseiros de carvalho e 70% do lote final estagiou em barrica.
Dica: com este perfil elegante e acessível, é um bom tinto que será polivalente à mesa.
This Post Has 0 Comments