Dizer que temos uma garrafa em casa não chega Um dos vinhos que seleccionei esta…
Nível para baixo?
Isto dos santos populares não augura nada de bom…
Parece que as sardinhas não vão abundar e os preços também não serão muito confortáveis mas o certo, certo, é que se aproximam as festividades dos santos populares e é suposto o apreciador de vinhos entrar num novo registo de consumo. Sempre a pensar na sardinha, no cheiro da dita na brasa, no fumo que se entranha na roupa, na algazarra das ruas e vielas, no ambiente descontraído, tudo em calções e havaianas, o enófilo vai à luta. Nesta altura todos esquecem os hábitos de consumo que religiosamente foram impondo (quando não, batalhando…) durante o resto do ano: vão esquecer os copos e a parafernália de modelos que usaram para diferentes vinhos; ninguém se vai lembrar da temperatura de serviço, das regiões demarcadas deixam de existir, vinho do norte, do sul, do leste e do oeste, todos têm o mesmo lugar nestas festividades. Por uma razão simples: ninguém sabe de onde vêm os vinhos, já que são servidos a jarro. É mesmo a jarro que o cliente quer, qual reminiscência longínqua do vinho que teria sido em tempos tirado directamente da pipa e que, agora, coisa dos tempos modernos, é tirado do pacote de bag-in-box. E estes vinhos de pacote são muitas vezes omissos quanto à região de origem ou mesmo o continente. Com sorte teremos direito a saber que foi produzido na União Europeia. É o mundo do vinho a granel, agora vestido de novas roupagens. E, quem sabe, vai calhar-nos na mesa um pacote cuja marca inclui a palavra Pias. Não será difícil já que existem mais de 100 marcas de vinho com aquela palavra mágica. É um verdadeiro estudo de caso e ninguém sabe ao certo o que terão feito os habitantes/produtores de Pias, pacata terra alentejana, para merecerem tão grande exposição pública. Entramos assim num período de amnésia voluntária no que ao consumo de vinho diz respeito. Uma coisa é certa: não é só o vinho que se vê relegado para níveis do fundo da escala, todo o resto da refeição acompanha este ambiente e situa-se no mesmo patamar; são bancos corridos, pratos miseráveis, pão ordinário que nos recusamos a comer no resto do ano, pacote de manteiga que chega quente à mesa, azeitonas sem sabor e por aí fora. E se começarmos a falar do azeite que nos propõem para temperar as batatas cozidas e do vinagre da salada, temos um quadro realmente deprimente. É verdade que o ambiente de rua e de bairro popular não puxa o assunto para outro nível mas ao enófilo restam sempre várias alternativas, sendo uma delas (a que mais vezes sigo nestes ambientes) que é beber cerveja, com as vantagens inerentes: sabemos o que estamos a beber, vem à temperatura certa, até podemos dispensar os copos e no final vamos perceber que escolhemos bem. Mas caso exista essa escolha na tasquinha que elegemos, podemos sempre recorrer ao espumante tinto, ao verde tinto e até pedir para que seja servido em malga, o tal recipiente que alguns acham adequado para beber vinho. Quem sabe ainda encontramos um verde tinto de Pias. Aí sim, os santinhos até se vão regalar lá onde estiverem. E viva o Santo António que eu sou alfacinha!
Sugestões da semana:
(Os preços, meramente indicativos, foram fornecidos pelos produtores)
Pasmados branco 2014
Região: Reg. Pen. Setúbal
Produtor: José Maria da Fonseca
Castas: Viosinho, Viognier e Arinto
Enologia: equipa dirigida por Domingos Soares Franco
PVP: €9,99
Sempre vendido com vários anos e por isso carregado na cor. Leve oxidação confere-lhe muito carácter, bom equilíbrio e com perfeita acidez.
Dica: um branco de sobremesa ou, ainda melhor, para queijos de pasta mole ou meia cura.
Manoella branco 2018
Região: Douro
Produtor: Wine & Soul
Castas: Gouveio, Viosinho, Rabigato e Códega do Larinho
Enologia: Wine & Soul
PVP: €12,90
A primeira colheita foi em 2018. Uvas do vale do Pinhão. Graduação muito ajuizada de 11,5º. Jovem, franco e directo na fruta.
Dica: um óptimo companheiro de petiscos de Verão, muito afinado e redondo.
Vale da Mata tinto 2016
Região: Reg. Lisboa
Produtor: Rocim
Castas: Touriga Nacional, Tinta Roriz e Syrah
Enologia: Pedro Ribeiro/Catarina Vieira
PVP: €9,50
Vinificação em balseiros de carvalho e 70% do lote final estagiou em barrica.
Dica: com este perfil elegante e acessível, é um bom tinto que será polivalente à mesa.
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