Setúbal dá um passo em frente Tal como tinha anunciado na semana passada é hoje…
Tratar das velharias
Mas com alguns cuidados e…muita esperança!
De tempos a tempos ocorre-me a ideia de fazer uma prova de vinhos velhos. Para a ocasião chamo sempre um pequeno núcleo que sei serem apreciadores de velharias. E isso significa exactamente o quê? Bem, os vinhos velhos são assunto complicado, a começar logo pela definição do que é que se entende por velho. O melhor critério, acho, é a idade, uma vez que é expectável que um vinho siga um determinado rumo com os anos em cima. Mas o que frequentemente acontece é que uns que supostamente estariam velhos e próximos de fenecerem afinal estão bem vivos e dão prazer a beber e outros despedem-se da vida bem mais cedo do que pensávamos. É assim uma espécie de aventura que vale a pena levar a cabo. Antes de mais tomei alguns cuidados: todas as garrafas estiveram na posição vertical vários dias antes da prova. Nada foi decantado com antecedência. Em segundo lugar tudo foi para o frigorífico, brancos e tintos sem distinção de idade ou região de origem; desta forma é mais fácil controlar depois a temperatura de serviço do que ter de estar a recorrer a baldes de gelo. Decantação em cima da hora só com dois vinhos: um branco que tinha a certeza que iria despertar curiosidade e, claro o Porto vintage porque o depósito que apresentava obrigava a decantação prévia. Em boa verdade a decantação com muita antecedência de vinhos muito velhos pode revelar-se contraproducente, uma vez que o arejamento acelera as modificações aromáticas e o vinho pode cair muito depressa e perder interesse. Assim sendo, o melhor conselho é: servir directamente da garrafa com o necessário cuidado para evitar a turvação. Funcionou. Uma prova deste tipo requer paciência e obriga a um sorriso amarelo quando, depois de termos guardado a garrafa anos e anos, afinal concluímos que está passada, está podre, cheira a rolha e outros mimos que nestes casos são frequentes. Foi o caso desta prova e vários vinhos acabaram por não ser provados por terem claros problemas de rolha: Jorge da Silva 1950 (Banzão, Colares), Oiro de Óbidos 1985 e Quinta de Foz de Arouce 1991; todos eles foram meus companheiros de “vida vínica”. Um outro estava realmente podre – Adega Coop. Souselas 1970 (Bairrada) – também ele em tempos um ex-libris bairradino. Grande felicidade foi um Romeira 1959, talvez a primeira vez (após 4 tentativas anteriores) que o provei em excelente forma. De sonho estava (mas sem surpresa) um Tapada do Chaves 1986, um tinto a merecer todos os encómios. Nos brancos, um (sempre difícil) Colares Viúva Gomes de 2006 e a grande surpresa da noite, um Regional Minho Aveleda Alvarinho de 2012 (servido às cegas e decantado), com evolução perfeita e feito fora da região de Monção e Melgaço. Fechou-se a festa com um vintage 1994 da quinta do Vesúvio, esse sim no seu melhor momento. A animação que estas provas despertam com vinhos que não têm região e normalmente não indicam castas é uma aventura que merece todos os aplausos. Vamos lá vasculhar a cave que pode haver por aí coisas muito sérias.
Sugestões da semana:
(Os preços, meramente indicativos, foram fornecidos pelos produtores)
Casa do Arrabalde branco 2018
Região: Vinho Verde
Produtor: Alexandre Gomes (A & D)
Castas: Avesso, Alvarinho e Arinto
Enologia: Fernando Moura/André Palma
PVP: €6,50
Propriedade (5 ha) familiar há seis gerações, vinhas na região de Baião. Do mesmo produtor existe um outro branco, marca Espinhosos que vem de outra vinha de 7 hectares.
Dica: muito bom balanço entre as três castas, excelente acidez, grande companheiro da mesa.
Pôpa Touriga Franca tinto 2016
Região: Douro
Produtor: Quinta do Pôpa
Casta: Touriga Franca
Enologia: João Menezes
PVP: €23,50
É a casta mais plantada no Douro e é “filha” de Touriga Nacional e Mourisco. Expressa-se especialmente bem no Cima Corgo, o coração da região.
Dica: médio corpo, macio, madeira bem integrada, um tinto guloso e muito gastronómico.
Cortes de Cima Amphora tinto 2016
Região: Reg. Alentejano
Produtor: Cortes de Cima
Castas: Aragonez, Syrah, Touriga Nacional e Trincadeira
Enologia: Hamilton Reis
PVP: €18,40
Estagiado em ânforas (não confundir com talhas) e ali ficou por 12 meses.
Dica: está muito atractivo sendo no entanto difícil descobrir aqui a originalidade da ânfora.
This Post Has 0 Comments