Pelas cepas mas também pelas bichas Janeiro é suposto ser uma época de clima frio,…
Manifesto do 1º de Maio vínico
Treze pontos de reivindicação (mas podiam ser mais…)
Não fui para a rua com parangonas nem pus faixas nas janelas mas a verdade é que não nos fazia mal algum reivindicar mudanças no nosso panorama vínico. O manifesto é meu e não foi preciso reunir nem comités centrais nem comissões políticas. Reza assim:
1. O país é rico em brancos e tintos. Já foi em tempos pátria sobretudo de tintos mas a situação mudou. A frase “como não havia vinho, bebemos branco” tem de ser banida de vez, por desajustada.
2. Passados os tempos das “forças vivas” que puxavam as brasas às suas sardinhas e das sensibilidades locais que não se podiam ferir, é altura de rever alguns procedimentos no que respeita às denominações de origem. O caso mais escandaloso é o do Alentejo, ainda actualmente marcado pelo “peso” das adegas cooperativas que, no Conselho Geral, decidem o que é e o que não é, Alentejo.
3. O país corre o risco de se descaracterizar: à força da disseminação das mesmas castas em todas as regiões, é cada vez mais difícil perceber quais as linhas-mestras que separam e identificam os vinhos das várias regiões.
4. Da alínea anterior não deverá deduzir-se um espírito castrador mas há que encontrar fórmulas que ajudem a que os estilos clássicos da cada região tenham lugar e sejam protegidos. Isso não pode ser feito se, como na Bairrada, aceitarmos que um “Bairrada Clássico” tem de ter apenas 50% da casta Baga. Se lhe juntarmos Touriga Nacional na restante percentagem lá se vai o classicismo (da Baga…).
5. Os vinhos jovens e que são para beber num curto espaço de tempo não precisam de rolha de cortiça e ganham se usarem rosca. Acabam-se as dúvidas sobre se o vinho está menos bom por causa da rolha. Com rosca não há mas nem meios mas; a haver culpado é o vinho!
6. Deveriam vulgarizar-se os espumantes com carica em vez de rolha de cortiça, sobretudo nas entradas de gama. Durariam muito mais em casa, sem perda de qualidade.
7. A famigerada “temperatura ambiente” de serviço dos tintos tem de ser eliminada de vez. A bem do prazer do consumo e do respeito do trabalho de quem os fez.
8. As Câmaras de Provadores têm de ser repensadas. Aceitar numa região imensas castas mas depois chumbar os vinhos na Câmara por não serem “típicos” é, no mínimo, ridículo e lamentável.
9. A falta de promoção interna do Vinho do Porto é um escândalo. Os organismos que regem o sector deviam ter vergonha, tal como as empresas, sempre mais interessadas em digladiarem-se entre si com preços sempre mais baixos.
10. A continuação da tutela do Estado na direcção do Instituto dos Vinhos do Douro e Porto, colocando ali boys e sonegando receitas é mais característico de uma república das bananas do que de um país decente.
11. As limitações e dificuldades à entrada de novas empresas no Vinho do Porto é um crime de lesa-pátria.
12. O preço quase ridículo a que se vendem alguns generosos de entrada de gama (Porto e Moscatel) são um desprestígio para as respectivas regiões e para o país.
13. Mais promoção externa precisa-se. Mais visibilidade para os nossos vinhos, exige-se.
Sugestões da semana:
(Os preços, com a excepção indicada, foram fornecidos pelos produtores)
Quinta do Bronze tinto 2015
Região: Douro
Produtor: Lua Cheia em Vinhas Velhas
Castas: Touriga Nacional, Touriga Franca, Sousão e Tinto Cão
Enologia: Francisco Baptista
PVP: €35
As vinhas situam-se em Vale Mendiz (Cima Corgo). O estágio prolongou-se por 24 meses.
Dica: a boa integração da barrica com o corpo e a excelente acidez fazem dele um óptimo parceiro da mesa.
Herdade Grande Gerações Colh. Selecc. branco 2017
Região: Reg. Alentejano
Produtor: António Lança
Castas: Verdelho e Alvarinho
Enologia: Diogo Lopes
PVP: €9
Um produtor de referência da zona da Vidigueira. Estas castas são de introdução recente no portefólio deste produtor.
Dica: grande foco na fruta madura mas com excelente acidez por trás a segurar o conjunto. Muito autêntico e sem máscaras.
Bipolar tinto s/ data
Região: S/ região porque é um lote de duas regiões diferentes.
Produtores/enólogos: Paulo Laureano/Paulo Rodrigues
Castas: Tinta Grossa (70%) da Vidigueira e branco Alvarinho de Melgaço (Qta do Regueiro)
PVP: €15,90 (Garrafeira Empor, Lisboa)
São vinhos de 2016. O tinto estagiou em barricas e o branco fermentou e estagiou também em barrica. O projecto é para continuar, com as percentagens a poderem variar. Foram produzidas 2000 garrafas.
Dica: ligeiro na cor, um tinto muito alegre e que dá imenso prazer a beber. Uma bela surpresa.
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