Setúbal dá um passo em frente Tal como tinha anunciado na semana passada é hoje…
O brexit do nosso descontentamento
E o Vinho do Porto na expectativa
O mercado do Reino Unido (RU) é tradicionalmente um dos principais destinos do Vinho do Porto. Não só das categorias de topo, como vintages ou tawnies com indicação de idade (categorias especiais), mas também de vinhos de entrada de gama e outros vendidos para marcas brancas (BOB) das grandes superfícies. É expectável que o brexit venha alterar práticas antigas dos principais operadores cuja aposta é muito forte naquele mercado. Os grupos Symington e Taylor/Fonseca/Croft são dos que lá estão mais implantados. Adrian Bridge (grupo Taylor’s) confirmou ao que aquele mercado representa 25% das vendas e chega aos 30% se se incluir os BOB. Analisando as estatísticas disponibilizadas pelo Instituto dos Vinhos do Douro e Porto (IVDP) verificamos que em 2018 houve quebra de 19,7% nas quantidades adquiridas pelo RU mas, segundo Bridge, terá havido a preocupação de em 2017 aumentar muito o stock e por isso as aquisições também baixaram em 2018. Estará agora por certo a acontecer o mesmo, na perspectiva de um hard brexit que ninguém deseja mas que é uma possibilidade. No conjunto, o Reino Unido é o 5º maior mercado para o Porto e para lá foram, em 2018, 812 995 caixas de 12 garrafas. A marca nº 1 é o Cockburn’s Special Reserve, um Ruby Reserva. Pelos vistos, por lá, anda pouca gente atenta às opiniões de Miguel Esteves Cardoso (!) sobre este vinho. A França continua a ser, destacadamente, o primeiro destino do generoso e Portugal o segundo. O Porto continua subvalorizado em termos de valor e é quase escandaloso o preço médio a que vendemos Porto: o Reino Unido compra a €7,11 as categorias especiais (vintages, LBV, Indicação de Idade e Colheita) e €3,47 os restantes. A previsão de uma inflação a subir e o valor da moeda a depreciar-se, com o consequente menor poder aquisitivo, pode arrastar uma situação bem complicada. Como tantas outras crises que o Porto já atravessou esta é mais uma que vai obrigar a inovar, a renovar e a apostar mais forte nas categorias mais elevadas e caras. É essa a opinião de Johnny Symington que refere que, em 2018, só no RU (que representa cerca de 25% do negócio da família) tiveram quebras. “Nos restantes mercados o ano foi espectacular e este 2019 está, para já a revelar-se óptimo; temos de fazer mais, trabalhar melhor, reforçar equipas e estar atentos”. O mercado interno tem crescido e, por exemplo, o preço médio das categorias especiais é €12,14 em Portugal, ou seja, quase o dobro do RU. Mais turistas também significa mais consumo e novos mercados, uns a consolidar (EUA e Canadá) e outros a desbravar (Médio e Extremo Oriente) são parte da solução para um produto que, não só não é de primeira necessidade como está conotado com um consumo demasiado formal: decantação, copos especiais, ser um vinho doce e com mais álcool. O Porto, tal como outras bebidas doces, precisa de trabalhar muito para se impor. Mas, voltando a temas que já por diversas vezes falámos, o sector tem de fazer muito mais pelo consumo entre nós. Quantos haverá que ainda acham que “vintage” quer dizer 20 anos? E ninguém se preocupa?
Sugestões da semana:
(Os preços foram indicados pelos produtores)
Assobio rosé 2018
Região: Douro
Produtor: Esporão
Castas: Touriga Nacional, Tinto Cão, Tinta Roriz e Rufete
Enologia: José Luis Moreira da Silva e David Baverstock
PVP: €7,49
A quinta dos Murças fica entre a Régua e Pinhão. A vinha de Rufete tem 30 anos, as restantes têm 10 anos.
Dica: um vinho fresco, seco, com grande polivalência à mesa. Saladas de Verão e peixes pouco temperados serão os parceiros ideais.
Quinta de Camarate branco seco 2018
Região: Reg. Pen. Setúbal
Produtor: José Maria da Fonseca
Castas: Alvarinho e Verdelho
Enologia: equipa dirigida por Domingos Soares Franco
PVP: €6,99
Marca clássica que remonta ao início dos anos 60. Tem variado a composição de castas. Produziram-se 20 000 litros deste branco.
Dica: frescura estival, boa harmonia ácida, um branco absolutamente consensual, todos gostam.
Malo Moscatel de Setúbal Superior 2004
Região: Moscatel de Setúbal
Produtor: Malowines
Casta: Moscatel de Setúbal
Enologia: Ricardo Santos
PVP: €15
Um dos moscatéis que veio enriquecer a oferta da região. A designação Superior obriga a classificação mais alta na Câmara de Provadores.
Dica: muito rico no aroma/sabor, um extraordinário moscatel a um preço imbatível. Beba fresco.
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