Dizer que temos uma garrafa em casa não chega Um dos vinhos que seleccionei esta…
As escolhas são múltiplas
Os consumidores não têm como se queixar
Vivemos na época da diversidade e das escolhas múltiplas. Isto é verdade em muitos items da nossa vida e no caso dos vinhos tem vindo a acentuar-se. Expliquemo-nos: a variedade de que o apreciador de vinho dispõe pode ser uma grande vantagem em relação a tempos anteriores mas pode também gerar uma enorme confusão. A profusão de marcas novas, tais como as minhas escolhas de hoje e das quais indico a quantidade produzida, leva a que a tarefa do apreciador não se mostre fácil; com frequência fica desorientado a olhar para uma prateleira – sobretudo de uma garrafeira mais especializada – porque há ali inúmeras marcas que não conhece, produtores que nunca ouviu falar e isso não ajuda. Muitas vezes são produtores pequenos, que existem por todo o país, ou são grandes mas, como no Douro, vendem o grosso da produção às casas de Vinho do Porto e é com o remanescente de uvas que fazem um vinho. Como as uvas eram boas e os custos são elevados estes vinhos têm preços altos e o consumidor, que não conhece o produtor, fica numa encruzilhada, que poderá ser deslindada por quem, na garrafeira, lhe está a propor o vinho. Por isso este tipo de vinhos têm ser enquadrados e bem explicados. Mas, hoje, não nos faltam escolhas: vinhos biológicos ou, mais habitualmente, feitos com uvas de agricultura biológica, vinhos vinificados em talha, outros estagiados em ânforas, tintos que recuperam castas antigas e são minimalistas nas técnicas que usam, brancos feitos à moda de tintos em toneis e barricas velhas, sem recurso a leveduras, vinhos sem acompanhamento e (também) sem futuro mas isso são escolhas de quem compra. Torna-se assim difícil centrar as opções numa única região, seja ela qual for, porque em quase todas há experiências interessantes, há castas a descobrir, vinhas velhas a recuperar, técnicas a experimentar. Mesmo regiões que há poucas décadas estavam quase moribundas ou muito esquecidas, como Colares ou Trás-os-Montes, mostraram que houve quem por elas se interessasse com resultados muito positivos. Até de regiões onde, apesar de delimitadas, não havia até há pouco qualquer representante – como Lafões – são de esperar notícias para breve. É claro que o clima de alguma euforia que se pode depreender deste texto, não esconde nem ofusca o problema de fundo: sem dimensão é muito difícil um produtor vingar no mercado. Atrás da pequena dimensão vêm um ror de problemas: falta de distribuidor e consequente falta de posto de venda, parco orçamento para comunicação e marketing, para viagens e feiras internacionais, quantidades demasiado limitadas para se pensar na exportação a sério. E digo a sério porque chega a ser ridículo ouvir um produtor dizer que exporta para 10 países mas afinal são 10 caixas para aqui, meia dúzia para ali e uma palete (com sorte) para o Brasil ou Angola. Qualquer semelhança com negócio profissional é pura coincidência. Entretanto, vamos bebendo coisas novas mas sempre com a peneira por perto para tapar o sol…
Sugestões da semana:
(Os preços dizem respeito à garrafeira Garage Wines, em Matosinhos)
Baías e Enseadas Malvasia Reserva branco 2016
Região: Reg. Lisboa
Produtor: Baías e Enseadas
Casta: Malvasia de Colares (em chão rijo)
Enologia: João Carvalho
PVP: €21 (670 garrafas produzidas)
Feito na serra de Sintra. Apesar de ser a casta típica de Colares, não tem Denominação de Origem por não estarem as vinhas em chão de areia.
Dica: fruta contida, lado mineral mais evidente, perfil de branco algo radical e mesmo com um ligeiro toque oxidativo que não lhe assenta mal. Projecto a seguir em próximas colheitas.
Rosa da Mata tinto 2016
Região: Dão
Produtor: Patrícia Santos
Casta: Alfrocheiro
Enologia: Patrícia Santos
PVP: €17,50 (1200 garrafas produzidas)
Aberto na cor, pouco macerado, resultando leve e elegante, com boa fruta.
Dica: um tinto fresco e muito gastronómico. Pronto a beber mas durará uns anos.
Ládano tinto 2016
Região: Douro
Produtor: Daniel Carvalho Costa
Castas: 15 castas em vinhas velhas
Enologia: Daniel Costa
PVP: €13,50 (4600 garrafas produzidas)
Vinhas no Douro Superior. Um tinto que se mostra muito bem, com boa expressão de fruta, corpo e taninos.
Dica: bom exemplar de vinhas velhas, com carácter e pronto para a mesa.
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