E, se recuarmos muito, só paramos na Bíblia Acontece com frequência. Temos tendência a pensar…
Os (bons) vinhos que ninguém bebe
Mas dos quais todos dizemos maravilhas
Entro numa garrafeira em Lisboa. Das mais conhecidas e prestigiadas. Olho para um expositor e vejo cerca de 20 rosés alinhados, marcas conhecidas, colheitas recentes. Como é que se estão vender os rosés?, pergunto. A resposta veio rápida: “não me diga nada, isso são monos que tenho e que me vejo aflito para vender; fora alguns estrangeiros que compram, os clientes portugueses não querem rosés”. Esta regra maldita não impede que algumas marcas, estou a lembrar-me do Dona Maria, se vendam muito bem e muito mais rapidamente do que a produção permite. Mas, afinal, porque não consumimos rosés se, como é o caso actual, a qualidade é infinitamente superior ao que era há 30 ou 40 anos e temos tanta opção de compra? Creio que é puro preconceito, ou porque é “vinho de senhoras” ou porque não se ultrapassou o mito do rosé doce, com gás e sem graça. Internacionalmente os rosés estão em alta – a moda é ditada pela Provence – os preços são elevados (e também temos alguns entre nós que já têm preços “à francesa”), como o MR Premium ou o Qta. Nova Nossa Senhora do Carmo Reserva, e o tal preconceito não resistiria a uma prova em copo preto: os críticos iriam gostar imenso porque…não estavam a ver a cor. Infelizmente, e cremos que é bem mais grave, bebemos muito pouco Vinho do Porto e quase nada Vinho da Madeira. Fica a pergunta: tem memória de quando foi a última vez que num jantar em grupo abriu um Vinho do Porto, independentemente do tipo ou categoria? Falamos, falamos, mas a verdade é que nos falta o hábito de beber Porto, quer como aperitivo – algo que os franceses fazem quotidianamente – quer como vinho de sobremesa ou mesmo para acompanhar alguns pratos. E agora outra ainda mais radical: tem alguma garrafa de Vinho da Madeira em casa? Com que frequência é que serve um Madeira aos convivas? O Vinho da Madeira tem uma longevidade tal que não há qualquer desculpa para não se ter ao menos uma garrafa, já que pode ir sendo consumida ao longo de meses e meses. Não podemos andar sempre a defender o Vinho do Porto, a dizer bem do património mundial, a saudar as gravuras de Foz Côa, e depois não fazermos o essencial que é bebê-lo, dá-lo a conhecer a quem não está por dentro, dar a beber a história, por vezes secular, que uma garrafa encerra. O Vinho da Madeira está a ter um grande reconhecimento internacional e isso tem feito disparar os preços. É inevitável, é desesperante para quem se habituou a comprar boas garrafas em leilão, mas é o caminho a seguir. Ali (como também no Douro) a viticultura é difícil, as produções são pequenas e, se pagar demasiado barato, está a comprar gato por lebre. Mas vamos ser francos: uma garrafa de Madeira ou de um Porto tawny velho, por caro que seja, alegra quantos convivas? Fez as contas? Pois é, sai muito mais barato que um bilhete para o futebol. E o prazer, esse, nem se fala…
Sugestões da semana:
(Os preços foram fornecidos pelos produtores)
Quinta de Ventozelo Essência tinto 2014
Região: Douro
Produtor: Quinta de Ventozelo
Castas: Touriga Nacional e Touriga Franca
Enologia: José Sousa Soares
PVP: €45
O novo topo de gama desta enorme quinta a montante do Pinhão, austero e muito sério.
Dica: prove agora mas guarde algumas garrafas que ele foi pensado para a cave.
Casal Sta. Maria Colares tinto 2008
Região: Colares
Engarrafado em: Casal Sta. Maria
Casta: Ramisco
Enologia: Jorge Rosa Santos/António Figueiredo
PVP: €35
Os vinhos são comprados na Adega Regional e estagiados depois na cave deste produtor.
Dica: fino, original e distinto. Um tinto que não podemos deixar morrer.
H. O. Horta Osório Reserva tinto 2016
Região: Douro
Produtor: Casa Agríc. Horta Osório
Castas: várias castas de vinhas velhas
Enologia: João Brito e Cunha/Fernando Lázaro
PVP: €22,50
Esta marca já tem um portefólio bem alargado. Este teve um estágio de 15 meses em barrica nova.
Dica: grande harmonia de fruta, taninos e barrica. Já dá óptima prova.
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