E, se recuarmos muito, só paramos na Bíblia Acontece com frequência. Temos tendência a pensar…
O apelo do mar
Ventos e brisas que fazem bem
A originalidade de um vinho tem como sabemos uma íntima relação com o local de onde as uvas são originárias. Vários factores jogam para a caracterização e individualidade de um vinho. A localização é o mais importante mas a altitude a que se situa a vinha, a exposição solar, a proximidade do mar ou a contrario a interioridade, são factores importantes. Depois vêm outros não menos marcantes: o solo, o clima, a casta e a acção do homem. Da forma como estes factores interagem nasce um vinho que é, ou deveria ser, a expressão desse local de origem. Sobre esta “marca” que o vinho deve ter, não há unanimidade de opiniões: enquanto alguns técnicos entendem que o solo deverá ser bem conhecido e analisado para se perceber o que tem de bom e o que lhe falta (que será corrigido), outros acham que essas “faltas” que possam existir no solo devem ser mantidas como estão e, essa ausência, ainda que possa ser um defeito final do vinho, será no entanto a sua marca distintiva. Temos, portanto, duas opiniões opostas que correspondem também a duas visões do mundo, uma defendendo uma maior intervenção técnica para assegurar a qualidade irrepreensível do produto final e outra que assume as arestas que o vinho possa apresentar como a sua identidade e originalidade. O assunto arrasta discussões intermináveis e poderemos voltar a ele noutra altura. Já a questão da proximidade do mar é, em Portugal, mais consensual: as menores amplitudes térmicas, os ventos marítimos e a acidez mais elevada que os mostos apresentam são factores que favorecem o vinho, nomeadamente os brancos. Olhando para o nosso mapa percebemos que os Verdes sejam a expressão do clima e da tal proximidade do mar. A mesma razão justifica que a Bairrada seja uma grande região para brancos e a zona de Lisboa lhe siga as pegadas com algumas vinhas rigorosamente em cima do mar. Mais recentemente nota-se um renovado interesse em zonas que vão de Setúbal a Milfontes. A busca aponta para a frescura que a proximidade do mar aporta aos vinhos e os brancos são os mais procurados. Não só o produtor Mota Capitão, dos vinhos da herdade do Portocarro, se interessou pela zona como também a herdade dos Cortes de Cima se chegou ao mar onde, também ali perto, já há muitos anos está a Herdade do Cebolal. Busca-se a frescura, busca-se a acidez elevada, tudo em detrimento das altas graduações e dos brancos pesados e com madeira nova que já estiveram tão em voga. Mas só a proximidade do mar não explica tudo porque, se fosse uma verdade absoluta, o Algarve tinha assegurado o pódio para a melhor zona de brancos do país. A realidade encarrega-se de nos lembrar que tudo é mais complicado do que parece e que, mesmo em zonas quentes mas onde se possa jogar com a altitude e a exposição, é possível fazer brancos de grande quilate. E quem diz brancos, diz tintos porque também esses estão hoje a seguir as novas tendências, com menos grau e menos extracção. Equilíbrio é a palavra-chave.
Sugestões da semana:
(Os preços dizem respeito à Garrafeira Empor, em Lisboa)
Alfaiate branco 2017
Região: Reg. Pen. Setúbal
Produtor: Pêgo da Moura
Castas: Esgana Cão, Galego Dourado, Arinto e Antão Vaz
Enologia: José Mota Capitão
PVP: €16,50
Vinha na serra de Grândola, a 10 km do mar. A casta Galego Dourado é mais característica da região de Carcavelos.
Dica: muita finura aromática a sugerir prova com pratos delicados.
Lés a lés L’Immigrant Sauvignon Blanc branco 2017
Região: Reg. Lisboa
Produtor: Wine Attitude
Casta: Sauvignon Blanc
Enologia: Jorge Rosa Santos/Rui Lopes
PVP: €16,45
Uvas da zona de Alenquer; fermentação e estágio em barricas com 10 anos. A colecção Lés a lés já tem vinhos de quatro regiões.
Dica: um Sauvignon bem original, com mais corpo e estrutura do que é habitual. Muito bem conseguido.
Marquês de Borba Vinhas Velhas tinto 2017
Região: Alentejo
Produtor: J. Portugal Ramos Vinhos
Castas: Alicante Bouschet, Aragonez, Castelão e Syrah
Enologia: equipa dirigida por João Ramos
PVP: €14,95
Uvas pisadas em lagar e aí fermentam 5 dias, 12 meses estágio em barrica.
Dica: rico na fruta, elegante no corpo, perfeito para a mesa, um belo tinto.
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