Devagar que tenho pressa Quando assistimos ao arranque de um novo projecto de vinhos, sobretudo…
2018 já era
E o que nos vai esperar daqui a pouco?
Os começos de ano têm sempre esta característica de balanço do que foi feito, dos erros que não vamos cometer e das coisas boas e politicamente correctas que nos propomos começar. E logo dia 2, de preferência. Já nem vou falar de ginásios, dietas e montes de exercício físico. Vamos deixar isso de lado. No que aos vinhos interessa, 2018 foi um ano terrível do ponto de vista climático, com um verão desafiante que sugeria uma vindima dramática. No entanto, ao cair do pano, os deuses estiveram com os produtores e a apanha da uva decorreu sem chuva em todo o país (coisa raramente vista), e isso é uma das melhores coisas que pode acontecer a quem faz vinho: ter uvas sãs, sem podre e com a possibilidade de vindimar exactamente quando ser quer, permitindo uma maturação lenta. A vindima, escassa na quantidade, acabou assim por originar grandes mostos e potencialmente grandes vinhos no futuro, apesar do drama que foi a falta de mão-de-obra. O ano foi ainda marcado pela declaração do Porto vintage de 2016, já muito aclamado pela crítica, e essa declaração deixou no ar a suprema interrogação: mas com um 2017 que se perspectiva excepcional, será que irão existir duas declarações em anos consecutivos, se o 17 for também declarado? Para baralhar tudo, há quem olhe para o 2018 com a mesma expectativa. Já todos têm saudades de vindimas com quantidades que se vejam mas a qualidade está a mostrar-se muito boa e são já três vindimas seguidas com vinhos notáveis. A região do Douro e Porto continua com problemas enormes por resolver, os vários intervenientes pouco dialogam e o Instituto que regula a produção continua a ser poiso de boys do partido do poder e dos grupos de pressão habituais. Enquanto assim for, é provável que pouco ou nada mude. Como há presidente novo, vamos esperar para ver, com expectativas em baixa. O ano ora terminado agravou um problema que se adivinha trágico nos próximos tempos, sobretudo para regiões como o Douro que não possibilitam vindima mecânica: a falta de gente para vindimar. Como se vai salvar a região é verdadeiramente o que está em causa e a solução não é evidente. Entretanto acentuou-se a componente de exportação dos nossos vinhos, mas é ainda muito pouco o valor acrescentado de muito do que se exporta. O país continua conotado com vinhos bons e baratos mas isso faz-nos entrar num beco sem saída: para vender barato não temos dimensão e para vender caro falta-nos projecção. E um preço elevado numa garrafa não é algo que nasça do nada: há que progredir na escalada de preços, sempre com crescimento sustentado. As regiões não se afirmam somente por apresentarem vinhos bem feitos a preço de saldo mas não vende caro quem quer, apenas quem pode. Os consumires, esses, têm muito por onde escolher e interessam-se cada vez mais pelo tema vínico: regiões, castas, métodos, enólogos, barricas, etc. Mas também aqui há trabalho a fazer já que a brigada do “chega cheio” e do “carrascão é que é bom” não esmorece e continua de nariz levantado. E, por isso mesmo, a luta continua…
Sugestões da semana:
(Os preços foram fornecidos pelos produtores)
Cortes de Cima Pinot Noir tinto 2016
Região: Reg. Alentejano
Produtor: Cortes de Cima
Casta: Pinot Noir
Enologia: Hamilton Reis
PVP: €27
Vinhas perto de Milfontes, beneficiando da proximidade do mar.
Dica: elegante e fino, muito fiel aos aromas de frutos vermelhos da casta. É vinho para pratos onde se incluam cogumelos, massas e/ou carne pouco temperada.
Falcoaria Grande Reserva tinto 2015
Região: DOC do Tejo
Produtor: Casal Branco
Castas: Alicante Bouschet de vinhas velhas e Syrah
Enologia: Manuel Lobo de Vasconcelos
PVP: €24,99
Robusto, ainda marcado pela madeira nova, é um grande tinto, um belíssimo ribatejano.
Dica: a provar já para se perceber que de Almeirim vêm também grandes vinhos. Reserve parte na cave.
Quinta da Gricha tinto 2016
Região: Douro
Produtor: Churchill Graham
Castas: lote de várias castas
Enologia: John Graham/Ricardo Nunes
PVP: €35
Muito bom tinto duriense, feito com uvas que têm origem sempre na mesma parcela. Vigoroso na boca mas amplo e com muito sabor.
Dica: para consumir agora com estufados de carne ou um arroz de pica no chão.
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