Dizer que temos uma garrafa em casa não chega Um dos vinhos que seleccionei esta…
Dão com surpresas escondidas
Já lá vão 110 anos
A região do Dão foi demarcada em 1908, numa vaga em que outras regiões também viram os seus méritos reconhecidos, como os Vinhos Verdes, Madeira, Moscatel de Setúbal, Colares, Bucelas e Carcavelos. Estávamos em vésperas do final da monarquia e já tinham passado mais de 150 anos sobre a demarcação do Douro para a produção de Porto. Nada entre 1756 e 1908. Depois novo hiato até 1979 quando chegou a vez da Bairrada e de seguida das restantes regiões. Desde sempre conhecida pela finesse e longevidade dos seus vinhos brancos e tintos, o Dão teve um forte movimento cooperativo a partir de 1956, quando se criaram 10 adegas. Praticamente sem produtores engarrafadores, a região vendia muito a armazenistas, sobretudo da Bairrada, onde (à época era permitido) se lotava Dão com tinto local para originar os famosos Garrafeira que todas as caves bairradinas tinham no portefólio. A partir dos anos 90 o cenário mudou, várias cooperativas fecharam, renasceram os pequenos produtores e algumas empresas instalam-se (como a Sogrape), servindo de alavanca para a região. O perfil dos vinhos também mudou, renasceu a Touriga Nacional, o Encruzado conservou o seu estatuto de nobreza e ganhou direito a ser comercializado com varietal e criaram-se novos tipos de vinho, como o Dão Novo, versão portuguesa do Beaujolais Nouveau, um vinho disponível no São Martinho, feito de Jaen e para se beber nos meses seguintes. Criado por Manuel Vieira, então enólogo na quinta dos Carvalhais, foi modelo rapidamente seguido mas ainda mais rapidamente abandonado, por algum desinteresse do mercado. Renasce agora (ver sugestões) e espera-se que com melhor aceitação. Outro modelo, novo mas herdeiro de tradição antiga, foi o branco com vários anos de casco antes de engarrafado. As grandes virtudes da região mantêm-se: vinhos finos, de acidez perfeita, intensamente gastronómicos e com grande capacidade para resistir à cave e, o que é mais notável, esta resistência é válida mesmo para os vinhos de entrada de gama. Recentemente presentes em Lisboa – no Dão Capital – foi com gosto que conhecemos novos produtores (Quinta do Paúl, Quinta do Medronheiro, Quinta da Carvalha, Quinta dos Monteirinhos) sempre sinal de vitalidade da região. Aqui os novos não têm benefício que os sustente a não ser o da dúvida. E a incerteza é de monta: a quem vou vender? Quem me vai distribuir o vinho? Como vou conseguir chegar ao consumidor? Que apostas tenho de fazer nas redes sociais? Como chego aos líderes de opinião? Tenho de ir a feiras e concursos? Com pequena produção onde é que encontro uma garrafeira que se interesse pelos meus vinhos? Estas são algumas das angústias que assaltam quem se quer meter na aventura. Mas a paixão fala, com frequência, mais alto que a razão e vamos conhecendo quem queira dar nova vida à região, até puxando por castas já quase extintas, como as brancas Uva Cão e Terrantez. Assim é que é.
Sugestões da semana:
(Os preços foram fornecidos pelos produtores)
Quinta do Perdigão Encruzado branco 2017
Região: Dão
Produtor: José Perdigão
Casta: Encruzado
Enologia: Mafalda e José Perdigão
PVP: €9
Muito rico de aromas citrinos, fruta fresca abundante, todo em elegância. 8000 garrafas produzidas.
Dica: um branco que pode (e deve) também ser guardado em cave para prazeres futuros.
Titular Dão Novo tinto 2018
Região: Dão
Produtor: Caminhos Cruzados
Casta: Jaen
Enologia: Carlos Magalhães/Manuel Vieira
PVP: €7
Feito pelo processo de maceração carbónica, idêntico ao Beaujolais. Produção de cerca de 2000 garrafas, já esgotadas no produtor.
Dica:
Quinta das Marias Lote tinto 2015
Região: Dão
Produtor: Peter Eckert
Castas: Touriga Nacional, Tinta Roriz, Jaen e Alfrocheiro
Enologia: Luis Lopes
PVP: €9
Este corresponde ao lote clássico da região. A quinta fica em Oliveira do Conde, perto de Carregal do Sal. Já poderá encontrar também o 2016.
Dica: com esta elegância e harmonia é caso para dizer: a mesa está à espera dele!
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