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Os alentejos de Maçanita

As experiências que empurram a carruagem

Foi no início deste século que dois entusiastas dos vinhos se juntaram, o enólogo António Maçanita e o inglês David Booth, técnico de viticultura. Daqui nasceu uma empresa – Fita Preta – e uma amizade que se manteve até à morte prematura de David, traído pelo coração. A empresa continuou e os consumidores já há muito que se habituaram a encontrar no mercado vinhos com a assinatura de António Maçanita, em três frentes diferentes: Alentejo, Douro (aqui com a irmã) e nos Açores, onde tem laços familiares e onde criou uma empresa – Azores Wine Company – que tem crescido em área de vinha e ajudado ao significativo aumento da produção, sobretudo da ilha do Pico. Ali foi possível, com a ajuda dos técnicos e cientistas da vinha, identificar castas originais, como a Terrantez do Pico (diferente da homónima existente na Madeira), a Verdelho ou a Arinto dos Açores. No Alentejo a empresa instalou-se num espaço – Herdade da Oliveira – com raízes históricas que remontam à Idade Média, onde existiu o Paço do Morgado de Oliveira, com alguns traços das antigas construções ainda bem visíveis e actualmente em fase de reconstrução e descoberta; a equipa de arqueólogos tem – ao que me contaram – encontrado muito mais vestígios do que inicialmente se pensava e os trabalhos continuam. Dos 500 ha da propriedade a Fita Preta ficou a gerir 100 e é agora ali que funciona a adega e se estão a plantar novos vinhedos. A auto-estrada passa perto e quem circula entre as saídas de Évora apercebe-se da imponência das antigas construções. Surpreendentes, no mínimo. A produção assenta em vários pilares e marcas que “tocam” a empresa para a frente: Sexy, Fita Preta e Palpite, cobrindo vários tipo de vinho, desde os espumantes aos vinhos tranquilos nas modalidades habituais. Foram no entanto as experiências que se tornaram a imagem de marca com o selo Maçanita. Hoje trazemos duas delas, a casta Baga plantada no Alentejo e um branco de talha mas, em crónicas anteriores, já aqui falámos de outras como os vinhos dos Açores e o branco Fina Flor que, por acaso, resultou semelhante a um Fino de Jerez e que, apesar das tentativas, ainda não se conseguiu fazer segunda edição. São muitos os exemplos mas de alguns sempre me recusei a falar porque entendi que vinhos intencionalmente comercializados com defeito não merecem destaque; foi o caso de um tinto que estava carregado de fenóis voláteis (suor de cavalo) e propagandeado como tal. Voltando aos que agora me interessam, fiz recentemente uma prova alargada de brancos, nomeadamente os Brancos de Talha e a evolução revelou-se muito interessante: de 2010 para cá temos vinhos que evoluíram de maneira diferente (a talha tem dessas coisas, nunca autoriza vinho iguais de ano para ano) mas o carácter e a originalidade estão lá bem marcados. O tinto de Baga é uma experiencia curiosa, vinha instalada em terra quente, de xisto e sem barrica, quase tudo diferente do que se faz na Bairrada. As castas são por natureza viajantes e nada obsta a que se plante Baga na planície. Experiências são mesmo assim.

Sugestões da semana:
(Os preços foram fornecidos pelo produtor)

Palpite Reserva branco 2017
Região: Reg. Alentejano
Produtor: Fita Preta Vinhos
Castas: Arinto, Verdelho e Antão Vaz
Enologia: António Maçanita
PVP: €19
Cerca de 30% do mosto fermenta em barrica. Fizeram-se 5000 garrafas.
Dica: um branco especialmente harmonioso, com volume e fruta. Muito gastronómico.

Branco de Talha by António Maçanita branco 2017
Região: Reg. Alentejano
Produtor: Fita Preta Vinhos
Castas: Roupeiro e Antão Vaz
Enologia: António Maçanita
PVP: €16
Talhas sem qualquer tratamento, usam como as compraram. Complexo e directo.
Dica: tem um lado selvagem e autêntico que é sedutor, um branco expressivo e com personalidade.

Baga ao Sol Unoaked tinto 2015
Região: Reg. Alentejano
Produtor: Fita Preta Vinhos
Casta: Baga
Enologia: António Maçanita
PVP: €19
A casta é aqui muito produtiva e com frequência tem de se fazer monda em verde.
Dica: um perfil cheio e maduro, muito distante da Bairrada e também por isso bem interessante.

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