Pelas cepas mas também pelas bichas Janeiro é suposto ser uma época de clima frio,…
Há mais virtudes para além da tinta
A Alicante Bouschet que todo o sul quer
Há castas que se afirmam por uma razão específica, há outras que não têm nada com que se afirmar mas todas têm o seu papel e era por essa razão que os antigos as misturavam na vinha. Mesmo aquelas que tinham pouco aroma, pouca cor ou pouca acidez podiam sempre ajudar ao conjunto contribuindo, por exemplo, com uma produtividade generosa “socorrendo” outras variedades que, embora belíssimas nas suas qualidades, produziam muito pouco e não eram rentáveis. A Alicante Bouschet é um desses casos, acarinhada pela concentração de cor. Trata-se de uma casta “fabricada” em laboratório – logo apátrida -, o que só por si nada tem de negativo; ao longo da história várias foram as que resultaram de cruzamentos intencionais feitos em casa em vez de terem origem em cruzamentos ocasionais, como os que se verificam na Natureza. Temos várias destas entre nós, como a Sercialinho ou a Seara Nova. A Bouschet foi produzida inicialmente em França pelo senhor Henri Bouschet que, ainda no séc. XIX, cruzou Petit Bouschet com a Grenache e resultou esta variedade cuja particularidade é ser tintureira, ou seja, a cor não está só nas películas (o mais normal nas castas tintas) mas também na polpa. Origina por isso vinhos muito carregados de cor, uma característica que muitos ainda associam com qualidade. Presente sobretudo no Alentejo, inicialmente no Mouchão e Quinta do Carmo, encontra-se também em pequena dose nas vinhas velhas do Douro. Terá sido, de resto, desta região que ela foi levada para o Alentejo onde, a partir dos anos 90, nos novos encepamentos que se seguiram à demarcação da região ganhou um “lugar ao sol”, sendo-lhe agora atribuídos mais méritos do que apenas ser tintureira. Passou o tempo (infelizmente para muitos) em que o Alentejo se afirmava quase exclusivamente pela Castelão (Periquita), Moreto, Trincadeira e Aragonez. De então para cá chegaram muitas castas estranhas à região, umas nacionais e outras estrangeiras. Desta forma, se falarmos hoje de um lote que seja característico do actual Alentejo, o que é que lá encontramos? Provavelmente 3 destas castas: Syrah, Alicante Bouschet, Touriga Nacional, Aragonez, Trincadeira, Petit Verdot. Os que defendem este novo modelo asseguram que estas são as castas que, em anos normais, dão melhores vinhos e com consistência de qualidade, algo fundamental para o negócio do vinho. A fama que entretanto adquiriu na região acabou por levar a Alicante Bouschet para fora do Alentejo e hoje encontramo-la também em Setúbal, Tejo e Lisboa, por vezes sob a forma varietal mas também em lote. Tem perfil aromático rústico, com notas de azeitona verde mas sempre a conferir estrutura de boca, cor e tanino, quase tudo o que se pretende num tinto moderno. Este é o reino da cor. Há outros reinados, há muito mais perfis de tintos. Adoptada há 150 anos, a Bouschet já adquiriu a nacionalidade portuguesa. Em boa hora que aqui porta-se muito bem.
Sugestões da semana:
(Os preços, fora a excepção indicada foram fornecidos pelos produtores)
Fiuza Alicante Bouschet Reserva Premium tinto 2016
Região: Reg. Tejo
Produtor: Fiuza & Bright
Casta: Alicante Bouschet
Enologia: Paolo Nigra/Peter Bright
PVP: €7,99
Fermenta em lagares e tem depois um estágio de 14 meses em barrica.
Dica: uma versão mais ligeira, aberta de cor mas muito harmoniosa e gastronómica.
Tiago Cabaço Alicante Bouschet tinto 2016
Região: Reg. Alentejano
Produtor: Tiago Cabaço
Casta: Alicante Bouschet
Enologia: Tiago Cabaço
PVP: €11 (Garraf. Campo de Ourique, Lisboa)
Foram produzidas 8200 garrafas. Tem origem na zona de Estremoz
Dica: concentrado mas não opaco, rústico mas com personalidade. Aposta segura.
Ravasqueira Premium Alicante Bouschet tinto 2014
Região: Reg. Alentejano
Produtor: Soc. Agríc. Dom Diniz
Casta: Alicante Bouschet
Enologia: Pedro Gonçalves
PVP: €55
Estágio de 28 meses em barrica. É uma estreia na colecção Ravasqueira Premium e apenas se fizeram 6686 garrafas.
Dica: pensado para a longa vida em cave, um tinto muito estruturado, robusto e com taninos bem presentes. Um grande tinto.
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