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Famílias e vinhos: uma saga, muitas histórias

Na Ervidiera a tradição continua

O vinho pode ser um negócio de família mas é muito difícil manter o negócio na família. A História ensina-nos que o entendimento entre os membros activos no trabalho dos vinhos e os restantes familiares que, sendo sócios, não estão com as “mãos nas uvas”, leva frequentemente a rupturas, desentendimentos, zangas e, não raras vezes, corte de relações. Não deveria ser assim mas… irmãos desavindos é o que mais conhecemos. E no vinho também. A história da família Leal da Costa, com um passado vinícola que remonta ao séc. XIX, pode neste aspecto ser exemplar. Recuando ao antepassado mais famoso, o 1º Conde de Ervideira (bisavô do actual proprietário, Duarte Leal da Costa) e continuando por todo o séc. XX, os seus vinhos alentejanos chegaram a ter grande projecção e tiveram – como tantos outros produtores da região – uma travessia difícil dos conturbados tempos da Reforma Agrária. Diz Duarte, “tivemos de começar tudo de novo, realmente do zero” mas actualmente a Ervideira representa cerca de 500 000 garrafas com marca e mais cerca de 300 000 litros que são vendidos a granel. A visita que fizemos recentemente à herdade teve a presença constante da mãe (91 anos), muito orgulhosa do seu carro que já leva 400 000 km e com o qual ainda todos os dias faz 140 km ao volante. Benefícios do vinho, dir-se-ia! Leal da Costa tem nos vinhos de gama média/alta o seu foco principal e não foi há muito que entrou em confronto directo com as grandes superfícies, contestando os preços ridículos que praticam e que, na sua opinião, arruínam a produção. Saiu desse negócio, apostou mais forte no enoturismo e os resultados têm sido compensadores. Crescer sem inovar costuma dar mau resultado e assim, por aqui, fizeram-se várias opções inovadoras como os “vinhos da água” com garrafas estagiadas no fundo do Alqueva. Começou-se com vinhos tranquilos e agora já será comercializado também um espumante que “dormiu” no fundo do rio, a 40 metros de profundidade, alargando para três os espumantes da casa. Além destes vinhos, a Ervideira lançou agora um vinho de agricultura biológica e um licoroso tinto, este feito à moda do Vinho do Porto, com interrupção da fermentação com adição de aguardente. No que respeita às relações familiares, Duarte ficou com a empresa (adega e instalações) e compra aos irmãos as uvas que lhes ficaram nas partilhas. Boa fórmula: quem não quer estar no negócio, ganha com a venda das uvas (160 ha) e quem dá a cara pelos vinhos não tem de estar permanentemente a justificar investimentos e a dizer não à distribuição de dividendos. Amigos como dantes. Não há fórmulas mágicas mas este modelo assegura o futuro do negócio. Conseguir que a actividade se mantenha na família por muitas gerações é uma enorme vitória (com vários casos entre nós) mas do inverso também não faltam exemplos. Acredito que seja uma enorme satisfação ver que o esforço vai ter continuidade. O 1928 tinto agora provado confirma isso!

Sugestões da semana:
(Os preços foram fornecidos pelo produtor)

Conde d’Ervideira Espumante da Água 2016
Região: Alentejo
Produtor: Ervideira
Castas: Antão Vaz, Alvarinho, Arinto e Verdelho
Enologia: Nelson Rolo
PVP: €16
Parte do stock continua debaixo de água e vai sendo retirado à medida do consumo.
Dica: uma boa surpresa, fino na bolha e fresco na acidez. Uma inovação alentejana.

Ervideira Bio-Nature tinto 2017
Região: Alentejo
Produtor: Ervideira
Castas: Trincadeira, Aragonez e Cabernet Sauvignon
Enologia: Nelson Rolo
PVP: €12,50
Vindima mecânica nocturna. Sem qualquer estágio em barrica. 26 000 garrafas produzidas.
Dica: muito boa elegância de conjunto, fresco, fruta muito pura. Um vinho sem máscara.

Conde d’Ervideira Private Selection tinto 2015
Região: Alentejo
Produtor: Ervideira
Castas: Aragonez, Trincadeira e Alicante Bouschet
Enologia: Nelson Rolo
PVP: €26,50
O tinto emblemático da casa, com abundantes notas mentoladas, elegante e fino na boca.
Dica: guarde algumas garrafas mas prove-o agora com borrego assado.

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