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A vinha e os seus segredos: o solo

Os mistérios foram desvendados

Há muito que se sabe que o sucesso e a originalidade de um vinho se ficam a dever a quatro factores essenciais: o solo, a casta, o clima e o trabalho do homem. O último factor é absolutamente determinante porque o vinho não se faz por si e carece de acompanhamento ao longo de todo o processo. Esse acompanhamento comporta opções, desde “o” que fazer ao “como” fazer e isso também é elemento diferenciador quando comparamos vinhos. Mas hoje tratamos apenas de um deles: o solo. Parecendo lógico que as suas características são importantes para a saúde da cepa ali instalada, a verdade é que durante muito tempo se minorou a sua influência e foi só a partir dos anos 80 que a microbiologia chamou a atenção para a importância que o conhecimento e vivificação dos solos teriam na saúde, complexidade e originalidade dos vinhos. Costuma dizer-se que “a vinha tem de sofrer” para que se consiga obter um vinho original. Por essa razão, se lhe damos adubo com fartura e água à discrição, a cepa, preguiçosa, não tem de se preocupar e ali fica, com raízes mínimas, pronta a produzir algo bebível, sem dúvida, mas longe, muito longe mesmo de um vinho notável. É então ao perceber-se que a cepa tem de aprofundar as raízes à procura de humidade e de alimento que se começa a entender a importância de manter vivo, rico e protegido, o solo que alimenta a cepa. Nasce assim a noção de terroir, percebendo-se que solos diferentes dão vinhos diferentes e que, em última instância, é essa a marca da originalidade. É também assim que se entende melhor a diferenciação dos vinhos da Borgonha, quando sabemos que são feitos com a mesma casta mas apresentando perfis diferentes. Disse Aubert de Villaine, do Domaine de la Romanée-Conti, que, com o tempo em garrafa, é sobretudo o terroir que vai marcar e diferenciar os vinhos, muito mais do que a casta ou o ano. Mas então o que se passou dos anos 80 para cá? O estudo dos terrenos muito ficou a dever aos trabalhos pioneiros de Claude e Lydia Bourguignon que chamaram a atenção para o facto de se andar (à época) a matar os solos, enchendo-os de pesticidas e herbicidas. Com o seu aconselhamento, alguns dos mais conceituados produtores da Borgonha foram, aos poucos, reconvertendo os métodos e aderiram à agricultura biológica e em alguns casos à biodinâmica. Os estudos permitiram também sugerir o diferente contributo dos minerais existentes no solo para a complexidade do vinho. Assim, granito, xisto, calcário e argila podem influenciar a riqueza final do vinho. Assim, apesar das “notas minerais” que povoam as notas de prova dos vinhos serem de difícil comprovação científica, parece certo que a influência do tipo de solo na complexidade final do vinho é verdade incontestável. Tratá-lo bem, alimentá-lo correctamente e manter a vida orgânica do sub-solo são tarefas imediatas do viticultor. Por muito que isso custe à indústria química, mais preocupada com quantidades do que com complexidades. Escolhas…

Sugestões da semana:
(Os preços foram fornecidos pelos produtores)

Quinta do Estanho Reserva branco 2017
Região: Douro
Produtor: Jaime Queiroz Cardoso
Castas: Arinto (80%), Viosinho e Rabigato
Enologia: Luís Leocádio
PVP: €11,99
Domina a fruta madura, as pêras, ameixas e uma nota amadeirada. Resulta bem equilibrado.
Dica: com o volume e estrutura que tem merece peixes gordos (cataplanas) mas também queijos de meia-cura.

Monte Cascas tinto 2016
Região: Reg. Alentejano
Produtor: Casca Wines
Castas: Touriga Nacional, Aragonez e Alicante Bouschet
Enologia: Hélder Cunha
PVP: €6,65
Aberto na cor, fácil na fruta vermelha viva e fresca, macio e muito equilibrado na boca. Sem ousadias mas muito gastronómico.
Dica: polivalente para pratos de carne guisada, como borrego com ervilhas.

Moscatel de Setúbal 10 anos
Região: Moscatel de Setúbal
Produtor: Adega Coop. Palmela
Castas: Moscatel de Alexandria
Enologia: Luís Silva
PVP: €20 (preço na loja da adega)
Com 10 anos o moscatel ganha uma complexidade enorme e aromas ricos com notas de laranja e mel.
Dica: merece prova a solo, ligeiramente refrescado. Perfeito num final de refeição estival.

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