Já é possível algum balanço da vindima de 24 À hora desta crónica “vir a…
Vinhos à beira-mar
Às portas de Lisboa, com cheiro a maresia
Os vinhos de Colares são muito originais. Nem sempre pelas boas razões mas a verdade é que continuam a desfrutar de grande fama e aceitação junto dos consumidores. Basta ver os preços que chegam a atingir em leilão para se perceber isso mesmo. As razões nem sempre são boas porque, especialmente nos tintos, a região tem tudo para que o assunto vínico corra mal: excessiva proximidade do mar em zona muito ventosa; dificuldade de maturação das uvas, significando isso que a acidez é sempre muito alta, a graduação é baixa e os taninos não chegam a maduros. Este “cocktail” gerava no passado vinhos duros, ácidos e de difícil prova que exigiam muitos anos de cave até serem bebíveis. O que acontecia é que ao fim desses anos de espera, por cada 10 garrafas abertas sete estavam mortas e três poderiam dar boa prova. Não é grande cartão-de-visita para uma região. A juntarmos a isto assistimos a enorme pressão imobiliária e a região quase morreu. Agora, apesar de pequena, a região produz vinhos mais interessantes, mais bem-feitos e que dão prazer a beber. Os Colares tintos são feitos com a casta Ramisco, exclusiva destes terrenos de areia, mas a zona é também aproveitada para outras castas mostrarem o que valem em ambiente marítimo, como é o caso da branca Sauvignon Blanc e tinta Pinot Noir, o vinho que escolhi hoje. São castas estranhas à região, que nada lhe acrescentam, mas ao produtor é concedida a opção do que plantar, de acordo com o seu tipo de negócio. A Pinot Noir é das castas mais difíceis de domar e, fora da Borgonha, dá apenas bons vinhos, seja aqui ou no Oregon. Mas é, diz-se e acredito, um dos grandes desafios para um enólogo, desafio a que poucos tentam resistir. Por essa razão são muito os pinots e o repto continua, sempre à procura do Graal do Pinot, os celebérrimos tintos de Chambertin ou de Vosne-Romanée. A região ficou também conhecida pelos brancos, onde a casta Malvasia de Colares marcava o compasso. Continua a ser raro encontrar um grande branco desta casta (mas existem…) e depois há quem faça lotes; o branco que seleccionei inclui também as variedades Arinto e Fernão Pires, clássicas castas estremenhas. Nestes vinhos encontramos sempre um ambiente marítimo, marcado por uma acidez muito viva, uma grande frescura e leveza na prova de boca e, especialmente no caso do branco de hoje (que é um novo projecto na região), uma grande aptidão gastronómica, fazendo dele um bom companheiro da refeição. A tradição não convém que morra mas para isso os consumidores têm de se interessar mais pelos novos vinhos de Colares, mais polidos e limpos e mais equilibrados do que os antigos. E os novos projectos têm de ser acarinhados. A não ser assim, teremos morte anunciada e depois, quando as vinhas morrerem andaremos todos a chorar a “enorme perda”. Nisso somos bons.
Sugestões da semana:
(Os preços referem-se à Garrafeira de Campo de Ourique, Lisboa)
Vinha da Roca branco 2016
Região: Reg. Lisboa
Produtor: Quinta Vale da Roca
Castas: Arinto, Malvasia e Fernão Pires
PVP: €6,95
Este branco está muito equilibrado, muito boa fruta, com alma e estrutura.
Dica: a pedir pratos de peixe gordo, é branco para a mesa. Sucesso garantido.
Colares tinto 2010
Região: Colares
Produtor: Quinta das Vinhas de Areia
Casta: Ramisco
Enologia: Jaime Quendera
PVP: €19,80
Vinha plantada em terrenos de areia. Pertence à Fundação Oriente.
Dica: vegetal seco, ligeiro no corpo, tonalidade casca de cebola. Curioso, um tinto de carácter patrimonial.
Casal Sta. Maria Pinot Noir tinto 2013
Região: Reg. Lisboa
Produtor: Adraga – Explorações Vitivinícolas
Casta: Pinot Noir
Enologia: António Figueiredo/Jorge Rosa Santos
PVP: €21
Vinhas com mar no horizonte, projecto agora seguido pelos herdeiros do barão von Bruemmer, fundador da empresa.
Dica: floral, leve e elegante, tinto aberto. A provar com pratos ligeiros.
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