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Uma história com Alvarinho

De ilustre desconhecida a estrela da companhia

Das várias castas de uva que conhecemos na região dos Vinhos Verdes, a Alvarinho assume um papel original; sempre esteve confinada às zonas de Monção e Melgaço e teve, como se vê na foto da garrafa de Deu-la-Deu, direito à indicação da casta na garrafa, algo raro, para não dizer inexistente, nos vinhos de antanho. As referências à casta remontam a finais do séc. XVIII mas foi devido aos estudos de Amândio Galhano nos anos 40 do século passado que a casta adquiriu um estatuto de nobreza. Após o surgimento nos anos 20 de um vinho engarrafado de Alvarinho (Casa de Rodas) foi nos anos 40 que começou nasceu a marca Cêpa Velha, de uma associação de produtores e que mantém a mesma apresentação de sempre, continuando disponível no mercado; a que reproduzimos foi adquirida em mercearia de bairro a menos de €6. Foi nos inícios dos anos 50 que apareceu a marca Deu-la-Deu (vê-se mal mas esta é da colheita de 1953), então propriedade da Real Vinícola. A garrafa era muito original (pena não ser produzida agora…) e era uma referência prestigiada. Creio que nos anos 50 não haveria mais marcas. Foi preciso chegar aos anos 60 para que a Adega Regional de Monção começasse, em 1964, a produzir aquele vinho varietal, então com a imagem que aqui reproduzimos, e que se manteve até 1997, data em que adquiriu a marca Deu-la-Deu à Real Companhia Velha, empresa que nos finais do anos 50 absorveu a rival Real Vinícola mas que manteve as duas marcas até data recente. A aventura da Alvarinho começou assim a alargar-se com uma presença crescente dos vinhos da Adega Regional e, nos anos 70, surgiu a emblemática marca Palácio da Brejoeira, com o look aristocrata que se manteve até hoje. O panorama ficou inalterado até aos finais dos anos 80 quando começaram a surgir produtores-engarrafadores, como a quinta de Alderiz e Soalheiro, esta em Melgaço. O que diferenciava a Alvarinho e os seus vinhos dos restantes Verdes? Era casta de boa acidez e de bom teor alcoólico, comercializada sem o acrescento de açúcar residual e de gás, tão característicos dos outros Verdes. A esses não faltava a acidez mas com vinhas tradicionalmente plantadas na bordadura dos campos de milho, era vulgar os mostos apresentarem 10º (e menos) de álcool provável o que também contribuía para a pouca longevidade dos vinhos. Em Monção e Melgaço a Alvarinho tem ainda uma grande vantagem: produz bem sem perda de qualidade e, sabendo-se que é actualmente a casta de uva mais bem paga à produção (em média €1 por quilo), percebe-se porque tem havido um renovado interesse em novos plantios e todos os meses surgem novas marcas, que já ultrapassam a centena. No entanto, e apesar da casta já se plantar noutras zonas dos Verdes e do país, Monção e Melgaço têm características únicas. É por isso que (tal como já em tempos aqui escrevi) muito mais do que promover a casta, há que promover a região. E o foco não pode mesmo deixar de ser: aquelas zonas usam a casta Alvarinho para produzir Monção e Melgaço. Só assim se fará a clara distinção entre aqueles e os outros Alvarinho, venham eles de que zona do país seja.

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