Copos fora de moda

É verdade. Para alguns é o fim da história.

Um bom copo é indispensável para se poder apreciar um vinho. Felizmente que o tempo do “chega cheio” já passou e, mais ainda, o dos “penalties” em que, se não se segurasse no copo com jeito vinha tudo por fora. Com o consumo a alterar-se (beber menos mas de melhor qualidade) e com a melhoria dos vinhos em todas as gamas de preços, caiu por terra aquela ideia dos bons copos serem só para ocasiões especiais, as tais em que o vinho tão longamente guardado iria ser servido. O bom copo passou então a ser um objecto do quotidiano, indispensável em qualquer momento e para qualquer vinho. O tipo de copo também se modificou: perdeu peso, ganhou prestígio pela elegância e finura e passou a ser mais exigente, às vezes adaptado a castas – o copo de Syrah, o de Chardonnay ou o de Touriga Nacional – outras vezes escolhido para regiões – o copo de Sauternes, o copo de Porto, a flute de Champanhe. Neste como noutros capítulos é relativamente fácil entrar em excessos e, à força de querer ter copos diferenciados, enchemos armários com uma imensidão de copos, de gestão difícil e limpeza ainda mais complicada. No caso do champanhe, o tradicional copo parece estar condenado. E por tradicional não estou a falar daquela taça larga que herdámos dos avós; essa há muito que foi transformada em recipiente para servir cocktails de marisco. Estou a falar da flute, estreita e alta que se vulgarizou nos últimos vinte anos. Pois essa mesma parece estar agora a chegar ao fim da linha e isso é evidente em algumas marcas prestigiadas de copos que começam a propor modelos bem mais largos e abertos que irão permitir tirar partido dos aromas do vinho, o que a flute não permitia. Tradicionalmente cada marca de champanhe sugere um copo serigrafado, algo que funciona como imagem da casa, diferente da empresa vizinha. Pois basta olhar para os copos que estas marcas oferecem para ver que a tal flute estreita já não é sugerida como copo adaptado para se poder apreciar um bom champanhe. Naturalmente que tudo isso se aplica também a espumantes, uma vez que se trata do mesmo tipo de bebida. Temos assim uma nova tendência, com copos mais leves, bem mais abertos na boca e que vão permitir que o champanhe se adapte também a uma das suas mais recentes formas de consumo: à mesa, servido como vinho principal para acompanhar diversos pratos e não apenas como aperitivo. Como se imagina, ficamos com um novo problema para resolver, ou seja, o destino a dar às flutes que até agora faziam boa figura mas que, sinais dos tempos, perderam terreno para novos formatos, novos materiais e novas funções. Mas, estamos em crer, haverá sempre um sobrinho em início de carreira (casa própria!) que enquanto não decide a baixela ficará muito satisfeito por ter alguns copos que possa usar e consumir a bebida da festa.

Sugestões da semana:
(Os preços foram fornecidos pelos produtores)

Espumante Casa da Ínsua 2016
Região: Dão
Produtor: Empreendimentos Turísticos Montebelo
Castas: Encruzado, Malvasia Fina e Semillon
Enologia: José Matias
PVP: €10
Aroma original, marcado por fruta amarela e notas florais. Bem equilibrado.
Dica: ligará bem com peixe delicado mas como aperitivo será também apreciado.

Chocapalha Reserva branco 2016
Região: Reg. Lisboa
Produtor: Casa Agríc. das Mimosas
Castas: Chardonnay (85%) e Arinto
Enologia: Sandra Tavares da Silva
PVP: €13,50
Fermentado em barrica, parcialmente nova. Conjunto aromático bem conseguido, sem excesso e sempre com a acidez a dar vida ao conjunto.
Dica: guarde algumas garrafas em cave que se justifica. Beba a 12º com peixes com molho de natas, por exemplo.

Art.Terra Amphora tinto 2017
Região: Reg. Alentejano
Produtor: Casa Agríc. Alexandre Relvas
Castas: Aragonez, Trincadeira, Moreto
Enologia: Nuno Franco
PVP: €12,50
Fermentado e estagiado em ânforas de barro. Aroma original, rústico mas bem proporcionado.
Dica: um vinho de recorte “histórico”, em homenagem ao tinto de antigamente mas sem perder o sentido gastronómico.