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O sucesso e o seu custo

Difícil mesmo não é fazê-los, é vendê-los!

Os vinhos, para o consumidor leigo na matéria, podem apresentar-se de duas formas bem distintas: ou algo que é simples de fazer e que se deixa beber muito bem, ou um produto bem complicado que exige técnica, equipamento, saber, bom senso e sentido de negócio. Em boa verdade as duas formas são verdadeiras e reais. Puxando pela memória do que vimos e conhecemos na infância, o vinho resumia-se a pisar as uvas no lagar, levar o mosto para dentro de um tonel (normalmente muito velho e lavado nas vésperas da vindima), pôr lá uma mecha de enxofre e esperar que a fermentação chegasse ao fim sem sobressaltos. Lá para a Primavera engarrafava-se directamente do tonel para garrafas que se iam juntando ao longo do ano, punha-se uma rolha à martelada e o assunto estava encerrado. Complexo? Nem por isso! Visto assim, porque é que se diz que o vinho pode ser um produto complicado? Porque tudo o que disse pode correr horrivelmente mal e, diga-se, tem quase tudo para correr muito mal. Comece-se pelas uvas que, se tiverem algumas podres à mistura, darão vinho defeituoso; a pisa não é por si só causadora de problemas mas já na prensagem, se feita sem cuidado, se pode ir longe demais e gerar taninos muito amargos e vegetais no vinho. Depois vem o tonel. Madeiras velhas são com frequência uma grande dor de cabeça para os produtores: maus aromas, mofo, bolor, notas animais são apenas alguns dos defeitos. É ali que vai o vinho a fermentar e espera-se que as leveduras façam o seu trabalho mas, sem monitorização, pode dar para o torto: a fermentação pode não se fazer até ao fim deixando açúcar por desdobrar e o vinho vai, desconjuntado, para a garrafa. Uma vez embotelhado pode manter-se estável, digamos, durante um ano mas sem protecção e sem filtração, quase tudo pode acontecer depois de colocada a rolha. Tudo isto para dizer que estamos perante um problema de dimensão: se faço para mim posso fazer sem tecnologia, se faço para colocar no mercado corro o risco de ver o meu vinho devolvido por se apresentar defeituoso. Falando frequentemente com produtores aprendem-se duas coisas: os não intervencionistas afinal intervêm mais do que dizem e os outros não contam tudo o que fazem, para não darem a ideia de excesso de tecnologia. Os vinhos são hoje um negócio com muita concorrência (se se quiser ser “moderno” tem de se usar a palavra player) e só há três formas de estar nele: ter uma grande dimensão (sempre acima do milhão de garrafas) e mesmo jogando no factor baixo preço, pode-se ganhar dinheiro; trabalhar com quantidades moderadas (até 150/200 000 garrafas) mas criar nome/marca que autorize a vender caro (e ser portanto rentável) e, por fim trabalhar em mercados de nicho onde cabem os consumidores que procuram vinhos diferentes mas tecnicamente bem-feitos e até, por vezes, valorizam ou minimizam os defeitos que possa ter. O sucesso não cai do céu e não há fórmulas mágicas. É um processo que dá muito trabalho.

Sugestões da semana:
(Os preços foram fornecidos pelos produtores)

Manoella branco 2017
Região: Douro
Produtor: Wine & Soul
Castas: quatro castas regionais
Enologia: Sandra Tavares da Silva e Jorge Borges
PVP: €13
O vinho combina a fruta com leve sensação mineral, resultando com volume e muito boa estrutura.
Dica: já pronto a beber sem mais delongas, um branco a merecer copos largos. Conjunto de muito bom nível.

Periquita Reserva tinto 2016
Região: Reg. Pen. de Setúbal
Produtor: José Maria da Fonseca
Castas: Castelão (maioritária), Touriga Nacional e Touriga Francesa
Enologia: equipa dirigida por Domingos Soares Franco
PVP: €8,99
Aberto na cor, fruta madura e notas de barrica, tudo bem proporcionado.
Dica: um tinto alegre, vivo e gastronómico. Todo em leveza. Evite guardar.

Quinta de Pancas Reserva tinto 2014
Região: Reg. Lisboa
Produtor: Qta. de Pancas Vinhos
Castas: Cabernet Sauvignon, Alicante Bouschet e Syrah
Enologia: Gilberto Marques
PVP: €12,20
Esta combinação de castas resulta muito bem, sempre com um lado apimentado a comandar a prova. Bem atractivo.
Dica: pode guardá-lo mas não beneficiará muito com isso. É agora que se mostra afinado e já pronto para dar muito boa prova.

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