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A originalidade da velhice
Das vinhas velhas podemos esperar tudo
Com frequência encontramos rótulos que contêm um esclarecimento sobre a idade das vinhas. Esse tipo de informação não está normalizada e cada produtor pode usar nomes diferentes, como Vinhas Velhas, Vinha Antigas, Vinhas Centenárias, etc, tal como acontece com um dos vinhos que hoje seleccionamos. Essa designação tipifica uma vinha com idade – não está definido a partir de quando é que se chama velha a uma vinha – e sugere um extra de qualidade que pode justificar o preço mais alto da garrafa. Sobre o tema, que é susceptível de gerar alguma confusão, há que esclarecer alguns pontos e tentar responder a algumas interrogações. Neste, como noutros temas, a resposta e a interpretação do tema depende da dimensão do negócio. Porquê? Porque uma vinha velha produz pouco (e não raramente muito pouco mesmo) e esse factor interessa a uns mas não a todos. Repare-se: se o meu negócio de vinho apostar fortemente na quantidade produzida, se eu lidar com alguns, mesmo que poucos, milhões de garrafas e o preço médio de PVP dos meus vinhos for baixo, as vinhas velhas e sua baixíssima produção não entram nesta equação. E, por muito que isso possa irritar alguns puristas românticos, este é o negócio mais frequente que encontramos no vinho e estes vinhos, baratos e bem-feitos, são os produtos que se vendem e que as grandes superfícies têm para oferecer. Neste grupo de consumidores encontramos a esmagadora maioria dos frequentadores das grandes superfícies. No entanto, se o meu negócio não se relaciona com quantidade, se tenho pouca área de vinha e se aposto em mercados-alvo de nicho, então as vinhas velhas e a sua baixíssima produção por cepa podem ser factores diferenciadores e que ajudarão a explicar o alto preço a que vendo os meus vinhos. Algumas constatações ajudam ao entendimento da questão: em primeiro lugar os vinhos não são bons por terem origem em vinhas velhas; existem boas vinhas com idade e outras que apesar de velhas não têm grande valia; as castas que lá estão e a forma como a vinha foi cuidada ao longo do tempo são factores determinantes. É no entanto verdade que os mais emblemáticos vinhos do mundo têm origem em vinhas velhas, o que significa que existe uma relação de causalidade entre idade e qualidade. O que podemos então esperar de um vinho destas vinhas? Seguramente menos fruta no aroma, sensações mais misteriosas e difíceis de definir, mais notas de vegetais secos, mais ambiente mineral, mais aptidão gastronómica, ou seja, tudo com pouca exuberância mas mais desafiante em termos de prova. É assim o branco desta semana, oriundo da zona de fronteira Douro/Beira Interior, onde os granitos marcam presença e onde persistem, em jeito de teimosia, muitas vinhas velhas à espera que os enólogos se interessem por elas e não deixem morrer este património genético riquíssimo que só as vinhas velhas têm que todos desejamos que não desapareça.
Sugestões da semana:
(Os preços foram fornecidos pelos produtores)
Vallado rosé 2017
Região: Douro
Produtor: Quinta do Vallado
Casta: Touriga Nacional
Enologia: Francisco Olazabal
PVP: €5,85
Álcool moderado nos 12,5%. Aromas de framboesa e groselha. Muito atractivo. 35 000 garrafas produzidas.
Dica: pode ser consumido a solo e para isso a ligeira doçura residual ajuda muito.
Pousio Reserva tinto 2014
Região: Reg. Alentejano
Produtor: Casa Agríc. HMR
Casta: Alicante Bouschet, Touriga Nacional, Petit Syrah
Enologia: Luís Duarte/Nuno Elias
PVP: €13,45
12 meses em carvalho francês. Ambiente balsâmico, com muita fruta negra e notas de barrica. Muito atractivo.
Dica: denso mas pronto a beber, sobretudo com pratos de carne no forno. Aposta segura.
Permitido Branco de Centenária 2016
Região: Douro
Produtor: Márcio Lopes
Castas: misturadas de vinhas velhas com 120 anos
Enologia: Márcio Lopes/Michael Wren (australiano que importa vinhos)
PVP: €25 (em garrafeiras)
Vinhas na Mêda, a 800 m altitude, fermentou em barrica usada, é a 1ª edição.
Dica: um branco difícil, feito com intervenção mínima. Melhora se arejar e poderá também melhorar com o tempo em garrafa, em virtude da bela acidez que apresenta.
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