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E agora? 16 ou 17?

As dúvidas metafísicas do Vinho do Porto regressam…

Diz-se nos mentideros que, em relação à colheita de 2017, o melhor ainda está para vir. Quem isto afirma está, claramente, a pensar no vinho do Porto e na possível declaração do 2017 como vintage clássico. Esta afirmação irritará dois grupos de intervenientes: em primeiro lugar o IVDP (Instituto dos Vinhos do Douro e Porto) porque é à sua Câmara de Provadores que cabe decidir se um vinho do Porto é vintage ou não e ficam muito incomodados quando, a um ano de distância de se iniciar a aprovação das primeiras amostras – o que acontecerá em Janeiro de 2019 – alguém tenha a ousadia de falar em vintage. Alterando aqui a música de Zeca Afonso, “a câmara é que mais ordena”; o outro grupo a ficar irritado com a afirmação e o uso da palavra “clássico” engloba todas as casas de Vinho do Porto que sempre estiveram à margem deste preciosismo de linguagem, criado pelas firmas inglesas, de considerar uns anos “clássico” para o Porto vintage de primeira linha e outros, considerados de menor valia, apelidados de “single quinta” termo meio estranho que não quer dizer nada mas que refere os vintages dos anos menos representativos, sempre vendidos bem mais baratos. Nesta luta entre classicismo e não classicismo apenas hoje figuram dois grupos: Symington (marcas Graham, Dow’s, Warre, Cockburn e Vesúvio) e Fladgate Partnership (Taylor’s, Fonseca, Croft). Quando escrevo este texto apenas o grupo Symington anunciou dia 6 de Abril que o 2016 será clássico. Esta decisão veio colocar o grupo Fladgate num beco, caso opte por não declarar clássico. Já não seria a primeira vez, uma vez que em 1991 todos declararam clássico e a Taylor/Fonseca quedaram-se pelo 1992. No entanto o momento pode ser de viragem histórica no sector, caso no próximo ano se declare também o 2017. Duas declarações seguidas poderá mesmo fazer com que termine de vez aquela ideia, actualmente absurda (ainda que centenária), das três declarações por década. A qualidade da actual viticultura, o perfeccionismo e rigor enológicos e a qualidade da aguardente farão com que seja possível declarar vintage de primeira categoria com mais frequência do que apenas de tempos a tempos. Aos Symington já se tinham antecipado a Sogevinus e a Sogrape com declarações de vintages de primeira, com todas as marcas a terem o seu vintage. Todos ficarão agradecidos se o ano for (também) clássico para as firmas inglesas porque conseguirão vender bem e depressa um vinho que dá bem menos trabalho que um tawny velho, implica menos stocks e tem, por isso, uma margem de lucro importante no equilíbrio das contas. Saudosos os tempos em que uma das empresas do sector dava um salário extra a cada trabalhador da casa quando declarava vintage clássico! Todos concordam num ponto: está a fazer muita falta ao sector um vintage que volte a colocar o Douro e o Vinho do Porto no centro das atenções. É que o 2011 já foi há demasiado tempo…

Sugestões da semana:
(Os preços foram fornecidos pelos produtores)

Pomares branco 2017
Região: Douro
Produtor: Qta. Nova Nossa Senhora do Carmo
Castas: Viosinho, Gouveio e Rabigato
Enologia: Jorge Alves/Sónia Pereira
PVP: €6,99
Muito fino de aroma, leve nota mineral e flor branca. Expressivo e delicado.
Dica: precisa de pratos delicados de peixe, ao vapor ou ao sal. Bem desenhado.

Dona Maria Amantis Reserva branco 2015
Região: Reg. Alentejano
Produtor: Júlio Bastos
Casta: Viognier
Enologia: Sandra Gonçalves
PVP: €12,70
Fermenta em barricas de 400 litros e aí permanece por 6 meses. A casta Viognier tem ganho muito espaço na região, quer em lotes quer como varietal.
Dica: chegou agora ao seu melhor momento. Muito gastronómico, cheio, com volume e bela acidez. Para peixes gordos e queijos.

Kopke Reserva tinto 2015
Região: Douro
Produtor: Sogevinus Fine Wines
Castas: Touriga Nacional, Tinta Roriz
Enologia: Ricardo Macedo
PVP: €15
14 meses em barrica novas e usadas. A aposta vai para os aromas de fruta, com leve percepção de madeira, tudo elegante e jovem.
Dica: pode e deve beber-se desde já. Muito polivalente para pratos de carne.

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