skip to Main Content

Com os pés no chão

E algum bom senso por perto…

Os temas vínicos são geradores de muita controvérsia. Isso é bom sinal e, por isso, discutir, falar, trocar opiniões e contestar fazem parte do nosso quotidiano. No caso dos vinhos quase todos os assuntos são objecto de polémica, sejam eles as castas usadas, o tipo de viticultura praticada, a forma de fazer o vinho, o uso das barricas, a utilização ou não de aditivos, enfim um sem número de tópicos que geram conversas apaixonadas. Com muita frequência, ao defendermos o nosso ponto de vista, tendemos a tomar o todo pela parte, a ver o mundo pelo nosso pequeno e limitado olhar. Ora, por muito que nos custe, o vinho é um negócio que movimenta muitos milhões de garrafas/ano, lida com mercados longínquos onde é suposto o vinho chegar com muita saúde e só quem anda no negócio sabe que a simples quebra de confiança com um importador pode significar um enorme prejuízo. Por isso, apesar de todos termos apreço pelos vinhos simples, feitos com poucos recursos e que usam as castas tradicionais, não podemos esquecer que esse é o pequeno mundo dos vinhos, afastado e, muitas vezes, muito afastado, do mundo real. Entre outros temas falemos de castas. Em Portugal temos muitas, são nossas e são originais. Devemos promovê-las? Devemos sim, é a nossa obrigação e o factor que nos diferencia. Mas depois, o que respondemos a um produtor que em tempos nos disse que só usava castas da região de Lisboa e não conseguia exportar nada e que “agora misturei Cabernet Sauvignon e vendo mais de 100 000 garrafas/ano”. Pois é, a poesia fica à porta da adega quando é preciso pagar contas. Diga-se que este produtor também não iria longe com as variedades Camarate, Preto Martinho, Tália e Tinta Miúda que a região tinha para oferecer. A tradição é obrigatória e deve manter-se quando acrescenta algo de novo, quando é a marca da originalidade e da diferença mas não significa que seja sempre boa, tal como não são sempre bons os vinhos por serem feitos “à moda antiga”. Quem tem idade para se lembrar desse tal “à antiga”, sabe que muita asneira se fazia e muita porcaria se despejava nas vinhas, em tratamentos que hoje até arrepiam só de ouvir falar. Diga-se também que muitos vinhos, hoje velhos, dão muito prazer a beber porque estiveram durante décadas a “processar” as quantidades enormes de sulfitos e ácido tartárico que levaram em novos. Bem vistas as coisas, hoje há uma renovada consciência ambiental, uma preocupação generalizada com a qualidade do que se usa na vinha e adega e com a originalidade do produto final. Mas, ainda que muitos pequenos produtores estejam autorizados a fazer as coisas de modo diferente, não nos podemos esquecer de quem tem de assegurar que o muito que produz está bem feito, saudável e agrada ao consumidor final que, relembre-se, compra o vinho no hipermercado à tarde para beber nesse dia à noite. Por isso não devemos perder a lucidez, aceitar a diferença, mas usar um macroscópio, em vez de microscópio.

Sugestões da semana:
(Os preços foram fornecidos pelos produtores)

Ameal branco 2017
Região: Vinho Verde
Produtor: Qta. do Ameal
Enologia: Anselmo Mendes
Casta: Loureiro
PVP: €9
Este é um produtor de referência da zona de Ponde de Lima, a pátria da casta Loureiro.
Dica: muito fresco mas com acidez espevitada, deverá ser reservado para mariscos cozidos (búzios, percebes, berbigão). Aí vai brilhar.

Herdade Grande Blend Clássico Colh. Selecc. branco 2017
Região: Reg. Alentejano
Produtor: António Lança
Enologia: Luís Duarte/Mariana Lança
Castas: Antão Vaz, Viosinho e Arinto
PVP: €5,50
A Vidigueira é de há muito a mais cotada zona alentejana para a produção de brancos, sobretudo quando intervém a casta Antão Vaz.
Dica: aroma discreto e ainda um pouco fechado mas já a mostrar perfeita harmonia de boca, à espera de peixes ao sal, por exemplo.

Quinta Nova de Nossa Senhora do Carmo rosé 2017
Região: Douro
Produtor: Quinta Nova de Nossa Senhora do Carmo
Enologia: Jorge Alves/Sónia Pereira
Castas: Tinta Roriz e Touriga Franca
PVP: €12,90
Apresentação magnífica, cor salmonada e grande delicadeza de conjunto. Um rosé notável.
Dica: perfeito para acompanhar canapés de peixe fumado ou pratos de sushi.

This Post Has 0 Comments

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Back To Top
Search