Setúbal dá um passo em frente Tal como tinha anunciado na semana passada é hoje…
O nome, a qualidade e o preço dela
Conversa antiga sem fim à vista
Somos todos os dias confrontados com os preços dos vinhos e muitas vezes por razões opostas. Com frequência entendemos que nos estão a pedir excessivo dinheiro pelo que nos estão a oferecer dentro da garrafa mas, agora no lado oposto, torna-se difícil perceber que um vinho com um designativo de qualidade como Reserva, Grande Reserva ou Grande Escolha custe muito poucos euros. Em relação à primeira questão é muito complicado calcular exactamente o que é que um vinho vale; podemos fazer um cálculo aos custos de produção – há vinhos muito mais caros de produzir que outros – mas depois, inevitavelmente, esbarramos algures entre os 10 e 20€ a garrafa. Acima desse valor já não estamos a falar de custo, estamos a pensar em posicionamento do vinho no mercado e estamos também a pensar no valor que o consumidor pode estar disponível para gastar num vinho. Por aqui entramos num campo subjectivo e em que a questão do “conforto no gasto” se torna mais evidente: enquanto para uns pagar mais de 6 ou 7 € por garrafa está fora de questão, para outros pagar 20 ou 30 ainda é aceitável. A partir de determinado nível de preço é a fama do vinho, o nome do produtor ou a raridade que fazem com que os preços possam subir assustadoramente. Veja-se quanto se está a pedir por uma garrafa de Barca Velha 2008 (em muitos sítios mais de 400 €/garrafa) e já se percebe melhor que nada disso tem a ver com os custos de produção. Há quem esteja disponível para pagar esses preços e há consumidores a quem aquele montante não parece exagerado. São as chamadas leis do mercado e ficamos então seguros que quem faz o preço é o consumidor. Mas, voltando ao tema proposto, também não faz sentido que os designativos de qualidade não queiram dizer nada. É isto que acontece quando vemos vinhos de 2€ que afinal são Reserva. Os designativos correspondem a classificações dos vinhos nas Câmaras de Provadores, com as designações Grande Escolha, Grande Reserva, Reserva Especial e Colheita Seleccionada a corresponderem às classificações mais altas. No entanto os preços PVP não são tidos em conta, nem os tempos de estágio. Em Espanha o designativo Reserva obriga a 36 meses de estágio dos quais 12 em barrica; os Gran Reserva terão de cumprir 60 meses, dos quais 18 em barrica. Desta forma o comprador sabe que está a pagar mais por um vinho que forçosamente terá de ser melhor (até pelo empate de tempo e capital por parte do produtor). Ora é isto que por cá não acontece e há assim um abastardamento dos designativos de qualidade. O mesmo acontece com as designações DOC (ou DOP) e Vinho Regional: teoricamente os DOC deveriam ser a categoria mais alta mas, em especial no Alentejo, contam-se por muitos os vinhos de topo que são regionais e não DOC e há vinhos DOC a custar apenas alguns euros. Pode então perguntar-se para que servem aquelas categorias e os designativos de qualidade. Boa pergunta a que o IVV e os Conselhos Gerais das Regiões poderiam responder, caso tivessem energia e vontade política.
A classificação do vinho é assunto de segundo plano; em algumas regiões o Vinho Regional é bem mais caro e mais famoso que o vinho DOC e são vários os produtores que, não querendo submeter-se às regras das Denominações de Origem, optam pela designação genérica de Vinho, com indicação da data da colheita ou da casta. Nada mais, e nada mais é preciso quando o vinho é bom (e há muitos destes vinhos que o são). Resumindo, a classificação fica em segundo plano, tal como ficam os designativos de qualidade – Reserva, Colh. Selecc., Grande Reserva e Grande Escolha. Estes designativos apenas correspondem a uma classificação que o vinho teve em sede de Câmara de Provadores mas não estão relacionados nem com o preço final nem com o tempo de estágio. Não esclarecem e confundem o consumidor. Conclusão: há vinhos Reserva a €2 e nenhum prestígio vem ao vinho por ostentar este tipo de classificação. Exemplo clássico, o tinto Barca Velha não tem qualquer designativo de qualidade e custa mais de €450 por garrafa.
Sugestões da semana:
(Os preços referem-se à Garrafeira da Luz – Estr. da Luz, 132, Lisboa))
Couquinho Superior branco 2016
Região: Douro
Produtor: Qta. do Couquinho
Enologia: João Brito e Cunha
Castas: Viosinho e Rabigato
PVP: €10,90
Aromas verdes, textura volumosa, um verdadeiro branco de meia-estação.
Dica: este tipo de branco (perfeito para bacalhau) deverá ser servido a 10/12º.
Porta dos Cavaleiros Reserva tinto 2012
Região: Dão
Produtor: Caves São João
Enologia: José António Carvalheira
Casta: Touriga Nacional
PVP: €8
Marca clássica do Dão, há alguns anos renascida. Sempre foi de lote mas este é um tinto varietal.
Dica: o tempo está finalmente a abrir o aroma e o vinho está a caminho do seu melhor momento. Mas ainda tem anos de vida pela frente.
Tyto Alba Vinhas Protegidas tinto 2012
Região: DOC do Tejo
Produtor: Companha das Lezírias
Enologia: Bernardo Cabral
Castas: Touriga Nacional, Touriga Franca e Alicante Bouschet
PVP: €9,90
Uma grande surpresa do Tejo, um tinto cheio de energia, rico e muito bem apresentado, com boa relação qualidade/preço.
Dica: pronto a beber, é um tinto polivalente, de médio corpo. Muito gastronómico.
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