Já é possível algum balanço da vindima de 24 À hora desta crónica “vir a…
Procura incessante continua
Porque todos gostamos de ser originais
É muito frequente ouvir os produtores falar das suas experiências. É sempre um bom sinal, sobretudo se esses ensaios visarem a produção de vinhos originais e distintivos, daqueles que fazem a diferença. Repare-se que falar de vinhos em modo de experiência não é necessariamente igual a falar em modernices e inovações técnicas; por vezes a inovação deriva de um regresso às origens. É desse regresso que fala um dos vinhos que seleccionei hoje. Trata-se de um vinho feito em talha de barro, prática ancestral que se usava no Alentejo para fazer vinhos, sobretudo, mas não só, tintos. Esse que escolhi tem origem em Borba e as talhas foram adquiridas um pouco por toda a região, tarefa a que Fernando Tavares, proprietário da Sovibor, dedicou tempo, dinheiro e paciência. E dizemos paciência (ou talvez resignação) porque, como ele contou, só num dia se partiram três em consequência da falta de domínio da técnica da fermentação em talha que as gentes actuais têm. É assim mesmo, aprende-se sobretudo com os erros. O vinho foi feito com intervenção minimalista mas as talhas foram preparadas “à antiga” com o interior a ser revestido com pez-louro, cera de abelha e azeite. Tudo cheira a passado, tal como as castas, algumas delas agora tidas como malditas na região, como o Moreto e a Rabo de Ovelha. É por juntar uvas brancas e tintas que se chama Petroleiro. De outra zona do Alentejo surgem dois brancos distintos mas ambos esperam que a originalidade que apresentam seja reconhecida. O Conde d’Ervideira branco esteve submerso nas águas do Alqueva com as garrafas armazenadas em gaiolas (não fosse fugirem…) a 30 m de profundidade. Com uma pressão grande e uma temperatura constante, algo de original há-se surgir. O produtor já tinha ensaiado com tintos e chegou agora a vez do branco. O vinho é muito novo e será conveniente guardar algumas garrafas em cave para se aquilatar melhor do efeito aquático. O terceiro é mais uma inovação de António Maçanita, enólogo que periodicamente nos informa que ainda não está satisfeito com o que produz e que quer experimentar tudo. Este é um vinho de flor. Isto significa que o vinho foi deixado (abandonado) na barrica, sem mais, e assim desenvolveu-se uma película de bolor à superfície do vinho que acaba por protegê-lo da oxidação. A técnica é muito usada quer em Jerez, quer em Espanha por Raul Perez, quer em algumas zonas francesas, como o Jura, mas por cá é desconhecida do grande público. O vinho tem graduação exagerada e preço também elevado mas é uma experiência a conhecer, são muito poucas garrafas e apenas estará disponível em garrafeiras. Este é o registo em que muitos produtores querem marcar presença. Inovar, criar diferença, fazer barulho vínico, não permitir que se deixe de falar deles. E nós consumidores sabemos que as novidades, as mudanças de paradigma e as inovações – ainda que pareçam estranhas – alegram o nosso quotidiano vínico e tiram-nos (e aqui uso a frase do meu amigo José Salvador) dos “vinhos do bloco central”.
Sugestões da semana:
(Os preços, meramente indicativos, foram fornecidos pelos produtores ou consultados on-line)
Fina Flor branco s/ data
Região: não tem
Produtor: Fita Preta
Enologia: António Maçanita
Casta: Arinto
PVP: €45/50€ (garrafa de 0,375 l)
Muito mas mesmo muito austero, mineral, oxidado, um branco radical a lembrar um Amontillado.
Dica: prove a solo (não muito fresco) ou com queijos como São Jorge, por exemplo.
Conde D’Ervideira Vinho da Água branco 2016
Região: Alentejo
Produtor: Ervideira
Enologia: Nelson Rolo
Castas: Arinto e Antão Vaz
PVP: €16
3200 garrafas. Combinação de fruta madura e traços vegetais. Gordo e muito gastronómico.
Dica: guarde algumas mas sirva-o com peixes gordos ou, melhor, com queijos de pasta mole.
Mamoré de Borba Petroleiro tinto 2016
Região: Alentejo
Produtor: Sovibor
Enologia: António Ventura, Rafael Neuparth e Rita Tavares
Castas: Moreto e Carignan (tintas) e Rabo de Ovelha (branca)
PVP: €22,50
Belíssimo exemplar de vinho de talha, com toda a radicalidade e tradição que isso implica. Quando se prova este tinto sentimos que estamos noutro ambiente que nada tem a ver com a modernidade vínica.
Dica: a provar com gastronomia regional, desde os pezinhos de coentrada até iscas de borrego muito temperadas.
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