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O foco e a dispersão

O Ribatejo e as suas “estórias”

Sabemos há muito que somos país de imensas castas. Nem todas boas, é verdade, nem todas enologicamente interessantes é certo mas, em todo o caso, muitas que nasceram cá, muitas adoptadas há décadas ou séculos e, naturalmente, aculturadas. A par de algumas que têm pátria segura, como o Arinto em Bucelas, o Alvarinho em Monção/Melgaço, a Encruzado no Dão e a Touriga Nacional algures entre Douro e Dão, muitas outras mostraram muito bom desempenho ainda que fora da zona de nascimento, como a Baga na Bairrada e o Castelão em Setúbal, por exemplo. Muitas há que estão conotadas com várias zonas, como a Fernão Pires na Bairrada (aí chamada de Maria Gomes) e Ribatejo, a Síria da Beira Interior e Alentejo (aí chamada de Roupeiro) ou a Sousão do Douro que responde por Vinhão nos Vinhos Verdes. Há depois casos em que a casta é emblemática e o factor diferenciador de uma determinada região. É o caso da Fernão Pires no Ribatejo. A região, que sempre foi mais produtora de brancos do que de tintos, tarda em assumir-se não só como “a” produtora de Fernão Pires, a região que mais sabe, que lhe conhece todas as manhas e que melhores vinhos pode a partir dela produzir. Tal como na Bairrada se criaram os Baga Friends, aqui era preciso criar uma associação/organismo que não só promovesse o estudo da casta, com tudo o que isso implica de ligação à Universidade, por exemplo, como gerasse um enorme ruído à volta da “sua” casta que outros usam mas ninguém a conhece tão bem como os ribatejanos. E, para espanto de muitos, provámos nos últimos anos duas versões de licorosos de Fernão Pires (um deles do séc. XIX) que são exemplo de que é possível ir muito longe com aquela variedade. O Ribatejo, ainda que seja região produtora de vinhos de inegável qualidade, tem contra si um passado de conotação de vinhos de granel que alimentavam as tascas da capital; tem dificuldade em afirmar-se como zona de imensas possibilidades que derivam do mosaico de solos que tem, das vinhas de idades muito diversas que ainda possui e de estilos variados que podem satisfazer os mais variados paladares. Mas para que tudo isto mude é preciso alterar algo que nos vai na massa do sangue e de que dificilmente abrimos mão: o egoísmo, a inveja, a incapacidade de trabalhar em conjunto. Se no Douro há os Douro Boys aqui deveria criar-se algo do género que juntasse as grandes casas da região. E quando digo grandes, são mesmo grandes: Alorna, Lagoalva, Casal Branco, Fiúza, Cadaval, Companhia das Lezírias, tudo casas com pergaminhos e com responsabilidades e que deveriam ser os motores da mudança. E voltando à Fernão Pires, é aqui que tem obrigação de nascer o que de melhor a casta tem para dar. Mas há que promover, há que mostrar, há que acreditar nas virtudes que tem. Porque muitos podem produzi-la mas como em Almeirim, ou mesmo Cartaxo, Tomar ou Tramagal, é difícil. Agora…quem é que sabe isto? E a quem cabe dizê-lo?

Sugestões da semana:
(Os preços, meramente indicativos, foram fornecidos pelos produtores ou consultados on-line)

Falcoaria Vinhas Velhas branco 2016
Região: DOC do Tejo
Produtor: Casal Branco
Enologia: Manuel Lobo/Joana Silva Lopes
Casta: Fernão Pires
PVP: €15
Fermentou em inox com finalização em barrica (50% nova). Aí permaneceu 8 meses para afinação.
Dica: um branco cheio de garra, com volume mas com muita frescura, muito capaz para aguentar o tempo em cave.

Quinta da Boa Esperança branco 2016
Região: Reg. Lisboa
Produtor: Quinta da Boa Esperança
Enologia: Rodrigo Martins/Paula Fernandes
Casta: Fernão Pires
PVP: €11
Aqui temos um branco ainda pouco falador que pode evoluir muito bem em cave. Mas, para a mesa, já mostra as qualidades que a casta pode apresentar nesta região.
Dica: prove algumas garrafas agora mas guarde também para os próximos anos, acompanhando a evolução.

Terra Larga branco 2013
Região: s/ Denom. de Origem
Produtor: Soc. Agríc. de Areias Gordas
Enologia: Tomás Vieira da Cruz
Castas: lote de várias castas plantadas no Ribatejo, onde se inclui Fernão Pires.
PVP: €12 (em garrafeiras e venda directa on-line para terralarga@hotmail.com)
Resulta de um lote feito na vinha, carregado na cor, um branco que parece um tinto.
Dica: para a mesa com pratos bem temperados e também para a garrafeira que ele aguentará bem o tempo.

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