Setúbal dá um passo em frente Tal como tinha anunciado na semana passada é hoje…
Os mistérios da terceira quinta-feira
Nos bons tempos metia avião Concorde e tudo…
Tudo se passa em Novembro. A terceira quinta-feira é o dia escolhido para o lançamento mundial do Beaujolais Nouveau. Trata-se de um vinho tinto, que tem origem a sul da Borgonha e que ganhou fama mundial, entre outras razões, exactamente por ser colocado à venda muito cedo. Estamos aqui a falar da colheira de 2017. Foi em 1985 que se definiu aquele dia específico do mês para o lançamento mundial; calha a seguir a um feriado nacional, dia 11, e sem o problema de poder coincidir com o fim-de-semana, como acontecia com a anterior data, que era 15 de Novembro. É um vinho feito a partir da casta tinta Gamay e é a sua original forma de produção que lhe dá fama. Obriga a vindima manual para que os cachos cheguem intactos à adega. Posteriormente são colocados inteiros em cuba saturada de gás carbónico e é aqui que se inicia a maceração carbónica, processo químico complexo que irá, no final, originar um tinto muito aberto de cor e com aromas típicos de groselha e framboesa. Os que não gostam dizem que o Beaujolais Nouveau não é um vinho a sério, é pouco mais que um refresco, uma água-pé mais sofisticada; para os outros, o Beaujolais é um vinho de convívio, para ser bebido fresco, sem pensar ou reflectir e que deve ser consumido quanto mais rápido melhor; por esta razão os franceses bebem milhões de garrafas até ao final de Dezembro. Beaujolais, que é uma Denominação de Origem desde 1937, produz outros tipos de vinho, alguns com longevidade assegurada, como os Cru de Beaujolais, que são 10 e cujo nome se vê claramente no rótulo, como Fleurie, Morgon, Chiroubles só para citar alguns. Comenta-se, e com imensa razão, que a projecção mundial que esta bebida ligeira teve, foi um genial golpe de marketing que fez com que a espera da 3ª quinta-feira se tornasse assunto de notícia, ao ponto da chegada a New York dos primeiros Beaujolais Noveau a bordo do então avião supersónico Concorde ser assunto falado por todos. E, em França, não há boteco que não coloque por estes dias à porta um cartaz onde se lê em letras gordas: Le Beaujolais Nouveau est arrivé ! Entre nós fizeram-se algumas tentativas de reprodução deste modelo, sobretudo na região do Dão, onde se criou mesmo o chamado Dão Novo, designação que se aplicava a vinhos comercializados ainda em Novembro. A quinta dos Carvalhais terá sido dos primeiros, fazendo um tinto muito aberto de cor a partir da casta Jaen que é, diga-se, muito apta para este tipo de vinho, até pelos aromas florais e de rebuçado que tende a desenvolver. Outros produtores (e de outras regiões) tentaram apanhar este comboio mas a verdade é que a moda não pegou. Por essa razão a nossa versão do Beaujolais Nouveau morreu. Confesso que este ano ainda não vi qualquer bar com o cartaz à porta mas terá sido distracção minha. Seleccionei esta semana um, da região original, para que o modelo possa ser conhecido. Quem sabe se nos inspiramos para descobrir a tal fórmula mágica de promoção que os franceses inventaram. Tentar não custa…
Sugestões da semana:
(Os preços, meramente indicativos, foram, salvo outra indicação, fornecidos pelos produtores)
Albert Bichot Beaujolais Nouveau 2017
Região: Beaujolais (França)
Produtor: Albert Bichot
Casta: Gamay
PVP: €11,90 (Corte Inglés, Lisboa)
Aberto na cor mas muito bem apresentado, aroma vivo e fresco com prova de boca fácil e muito convidativa.
Dica: beber a solo ou a acompanhar entradas ligeiras. Ou mesmo castanhas assadas.
Sem Vergonha tinto 2015
Região: Reg. Alentejano
Produtor: Susana Esteban
Enologia: Susana Esteban/Dirk Niepoort
Casta: Castelão
PVP: €20
A casta, antiga na região, aparece agora poucas vezes como vinho varietal. Este vem de vinhas velhas.
Dica: um tinto aberto de cor, muito gastronómico, fino e bem equilibrado.
Morgado do Quintão Clarete 2016
Região: Reg. Algarve
Produtor: Amor e uma Cabana Unipessoal
Enologia: Joana Maçanita
Casta: Negra Mole
PVP: €13,95 (Garrafeira Empor, Lisboa)
Muito aberto na cor, aroma aqui a combinar um lado vegetal seco com alguma fruta viva. Macio e fácil na boca.
Dica: muito gastronómico, polido de taninos e mais que pronto a ser consumido.
Em Portugal se fizessem uma promoção vendiam mais, mas não se vem em lado nenhum.Até 2010 havia o arca nova (quinta das arcas Valongo) agora não sei ainda há