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Eu devia estar a falar de castanhas

O clima altera-nos a agenda…

E as alterações até podem ditar que quando esta crónica chegar às bancas o frio tenha chegado e a chuva tenha pegado de estaca. Bem, estarei a ser muito optimista, a coisa está mesmo feia, para não dizer mesmo muito perigosa. O tempo que era suposto ser já fresco, a pedir aqui e ali a lareira acesa, está a empurrar-nos para as esplanadas, para as patuscadas de ar livre, churrascos, baldes de gelo e outras práticas que tínhamos como estivais. Do ponto de vista do consumo terá a vantagem de nos fazer limpar a garrafeira daqueles vinhos que sabemos que são os companheiros de verão, os rosés e mesmo alguns Verdes especialmente indicados para marisco. Se o stock for ainda avantajado, sabemos que o rosé pode ser sempre o tal substituto da água-pé na época das castanhas assadas, sobretudo os que apresentam uma graduação mais ajustada, digamos até um máximo de 12,5%. Não era por acaso que os produtores de outros tempos para fazerem a água-pé juntavam água ao mosto e o fermentavam depois num pequeno pipo; a ideia era mesmo obter um vinho de muito baixa graduação, algo que pudesse ser bebido por toda a família, mais como refresco e sempre para acompanhar as castanhas, assadas ou cozidas, conforme a tradição regional. A tal de água-pé não era digna de substituir o lugar do vinho à refeição, era mesmo para os lanches à lareira. Neste aspecto do grau pode dizer-se que os tais rosés, que digo podem substituir a dita cuja, acabam ainda assim por ser bem mais alcoólicos, o que obriga a outros cuidados com o consumo. Embora não seja propriamente uma tradição portuguesa, o consumo das ostras é, ao contrário do que os apreciadores gostariam, melhor no inverno do que no verão; é a partir de agora que elas começam a engordar e as conchas estão assim mais cheias. A tradição francesa de as comer nas festividades natalícias não tem equivalente em Portugal. No entanto, se for apreciador encartado, não deixe de guardar alguns brancos bem secos e encorpados para os beber com aqueles bivalves. O inverno não é assim exclusivamente um período de consumo de vinhos tintos e generosos, é também uma época apta a vinhos brancos, mais cheios, mais encorpados, os brancos fermentados ou estagiados em madeira. Estes, na gíria conhecidos como brancos de inverno, são parceiros indispensáveis do bacalhau, em várias receitas, desde o cozido ao assado no forno, mesmo que leve, como algumas receitas sugerem, maionese. E enquanto dias frios a sério não chegam, enquanto as lareiras permanecem mudas e os cobertores guardados no armário, é bom saber que há tintos de médio corpo que são perfeitos para a época, sobretudo para aqueles consumidores que só bebem tinto. E quando sabemos que vários restaurantes já repuseram a sua tradição do cozido à portuguesa em dia fixo da semana, é também bom recordar que estes tintos de médio corpo são perfeitos companheiros para quele petisco que tem tantos adeptos entre nós e onde, orgulhosamente, me incluo.

Sugestões da semana:
(Os preços, meramente indicativos, foram fornecidos pelos produtores)

José de Sousa tinto 2015
Região: Reg. Alentejano
Produtor: José Maria da Fonseca
Enologia: equipa dirigida por Domingos Soares Franco
Castas: Grand Noir, Trincadeira e Aragonez
PVP: €7,99
Parcialmente pisado a pé em lagar e fermentado em talha. O restante fermenta em inox.
Dica: macio e aveludado, um tinto a pedir borrego no forno ou cozido de grão.

Vidente tinto 2015
Região: Dão
Produtor: C 20 Lda
Enologia: Nuno do Ó
Castas: lote de cinco castas regionais.
PVP: €8,90
Provém de terrenos graníticos, na margem direita do rio Dão.
Dica: grande elegância e facilidade de prova. Um tinto muito gastronómico.

Vidigueira Reserva branco 2013
Região: Alentejo
Produtor: Adega Coop. Vidigueira
Enologia: Luís Morgado Leão
Castas: Antão Vaz e Perrum
PVP: €9,95
Parcialmente fermentado em barrica. Apesar da idade está em óptima forma.
Dica: um pouco carregado na cor mas com acidez excelente. Para caldeiradas de peixe ou mesmo de cabrito.

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