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Arrumos e desarrumos

A garrafeira e os seus cuidados

Sou frequentemente confrontado com perguntas de leitores que querem conselhos e ideias para a melhor conservação dos seus vinhos. Com frequência deparamos com aquela garrafa que ficou esquecida e que agora achamos que provavelmente já não estará boa. E o problema é que às vezes não é só uma garrafa, são muitas. Começam então as dúvidas e, não raramente, as angústias. Será que guardámos vinho tempo de mais e agora estará podre? Valerá a pena abri-lo? Vamos então ver se arrumamos algumas ideias em relação a situações como estas. Antes de mais temos de saber que o vinho tem mais resistência ao tempo do que por vezes imaginamos: a evolução na garrafa é um processo lento e não é de um ano para o outro que o vinho se vai estragar, se a rolha o conservou bem. No entanto tudo isto pode não ter validade alguma se a rolha não estiver em condições. O assunto da deficiente qualidade das rolhas, longe de estar solucionado, tem ainda um longo caminho a percorrer e é mais frequente surgirem vinhos de topo com problemas de rolha do que vinhos baratos que usam rolhas técnicas, de aglomerado ou outras. É insólito mas é verdade. A rolha natural (feita de uma peça só) tem tirado o sono a muito produtor que se vê confrontado com queixas de consumidores, insatisfeitos com os vinhos pelos quais pagaram bom dinheiro e que depois não estão em condições. Voltando aos vinhos esquecidos, um dos primeiros aspectos a ter em conta é o nível a que o vinho se encontra dentro da garrafa: quanto mais alto estiver esse nível mais segurança temos em relação à saúde do vinho; níveis muito baixos sugerem uma perde de líquido com evolução/oxidação e por isso, na maior parte dos casos nem se justifica abrir a garrafa. A observação da cor do vinho dentro da garrafa também pode ajudar: se nas garrafas brancas é fácil ver a evolução da cor do vinho, já nas garrafas verdes é preciso olhar com atenção e conferir se não há exagerados acastanhados perceptíveis mesmo por fora da garrafa. A regra será: alguns tons acastanhados ainda justificam alguma esperança mas uma tonalidade fortemente castanha tira-nos a expectativa. Nos tintos, em que a cor da garrafa dificulta a observação pode, ainda assim, ser possível perceber se a tonalidade do interior é avermelhada ou acastanhada, ajudando à decisão. No entanto mesmo que todas as condições estejam reunidas para que o vinho se apresente ainda com saúde, nada substitui a prova. Por isso é sempre bom dar ao vinho o benefício da dúvida e abri-lo para conferir o estado das coisas. Se for caso disso vale a pena deixar a garrafa em pé durante umas horas ou um dia para que o depósito se desloque para o fundo da mesma. Esta prática estende-se dos vinhos antigos aos novos, aqueles cujos produtores optaram por não filtrar os vinhos. No final, após decantação, só falta servir o vinho à temperatura certa que, neste Outono tão quente, ainda requer frigorífico.

Sugestões da semana:
(Os preços, meramente indicativos, foram fornecidos pelos produtores)

Monte do Pintor Reserva tinto 2014
Região: Reg. Alentejano
Produtor: Soc. Agríc. da Sossega
Enologia: David Patrício
Castas: Aragonez, Trincadeira e Cabernet Sauvignon
PVP: €20
O vinho mostra-se bem, com aromas frescos e florais, o que facilita a prova.
Dica: um companheirão para pratos de carne de vaca na grelha, por exemplo.

Assobio tinto 2016
Região: Douro
Produtor: Quinta do Murças
Enologia: David Baverstock e José Luís Moreira da Silva
Castas: Touriga Nacional, Tinta Roriz e Touriga Franca
PVP: €7,49
A vinha está entre a Régua e o Pinhão, a quinta tem uma grande margem de rio.
Dica: boa ligação aroma/corpo, elegante, tem tudo para agradar desde já e será polivalente à mesa.

Quinta da Lapa Reserva branco 2016
Região: Regional Tejo
Produtor: Agrovia
Enologia: Jaime Quendera
Castas: Arinto, Chardonnay e Viognier
PVP: €6,80
O vinho está muito equilibrado, com um bom diálogo entre a fruta e a barrica.
Dica: irá muito bem com peixe ao sal mas também com carnes brancas pouco temperadas.

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