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Horizontes da memória

A vindima de 2017 a dar que falar

Este ano os cestos da vindima foram lavados quase com um mês de antecedência. Nada que espante, era isso que se esperava quando se percebeu que se tinha também começado a vindimar cerca de três semanas antes do normal. Apesar disso restava ainda uma margem de incógnita porque nunca se sabe quando é que começa a chover e se a quantidade é a necessária para fazer bem às uvas ou a excessiva que deita tudo a perder. Este ano houve continuidade do princípio ao fim: sempre calor e apenas um dia com alguns pingos. Antes assim, dirão os produtores, uma vez que as uvas chegaram absolutamente sãs à adega, sem podre e num perfeito estado sanitário, característica esta com que sonham os produtores, uma vez que só com uvas sãs que se pode fazer bom vinho. Tudo começou com uma Primavera anormalmente quente que fez com que o ciclo vegetativo da planta se acelerasse e desde então esse adiantamento manteve-se até ao fim. Estes anos quentes tendem a fazer mirrar as uvas que têm assim menos sumo e uma maior proporção de película versus mosto. Isto significa mais cor, mais concentração e menos produção, três condições essenciais para se fazer, por exemplo, um grande, se não mesmo enorme, Vinho do Porto. “Pelas características deste 2017 poderemos estar perante um novo 1945”, dizia-me há dias, no Douro, David Guimaraens, enólogo da Taylor’s/Fonseca/Croft. Ora esta afirmação é de peso, já que 1945 foi um dos 3 ou 4 melhores anos do séc. XX para o Vinho do Porto; outro ano fabuloso foi 1977 e juntando-se o 2017 todos têm a mesma característica: imenso calor, menos produção mas grande concentração e riqueza. Os dados estão assim lançados e sendo certo que vai ser preciso esperar um ano e meio para se declarar vintage, fica desde já a enorme expectativa. Em termos do país, o calor fez das suas: uvas a entrarem nas adegas com 16 e 17º de álcool provável (em alguns casos muito mais do que isso) foi o que mais se viu mas com a acidez também elevada, fenómeno que não vem nos livros; vai ser assim preciso contrabalançar vinhos de zonas mais baixas e quentes com vinhos de altitude que possam ter menor graduação, tarefa fácil em algumas regiões mas bem complicada em zonas de planície. Temos um ano sorridente para as castas que gostam mais de calor (como a Trincadeira) e para as que têm bago maior que, apesar de ter minguado, se conserva com boa quantidade de sumo (como a Antão Vaz). Pelo sul alentejano quem não tinha rega nas vinhas passou um mau bocado. Pode dizer-se que a vindima acabou por correr bem melhor do que se pensava e, pelo que pudemos ver em algumas quintas do Douro, ali as vinhas não regadas mantêm um ar extremamente saudável e ainda com muita folhagem verde, mesmo já tendo sido feita a vindima. Estão como que a dizer-nos que têm melhor memória que nós e que já passaram várias vezes por situações idênticas. O que nós ainda temos de aprender com elas…

Sugestões da semana:
(Os preços, meramente indicativos, foram fornecidos pelos produtores)

Bons Ares branco 2016
Região: Regional Duriense
Produtor: Ramos Pinto
Enologia: Teresa Ameztoy
Castas: castas tradicionais (60%) e Sauvignon Blanc
PVP: €8,50
Este branco, agora clássico que faz 25 anos, continua a mostrar-se muito bem, com uma perfeita harmonia de fruta e leve percepção de barrica.
Dica: perfeito desde já mas com estrutura para uma década. Tal como os anteriores.

Quinta dos Carvalhais Alfrocheiro tinto 2015
Região: Dão
Produtor: Sogrape Vinhos
Enologia: Beatriz Cabral de Almeida
Casta: Alfrocheiro
PVP: €14
Casta menos falada mas uma das grandes variedades portuguesas. Usada também no Alentejo. Grande companheira da mesa.
Dica: espere uma grande evolução em cave, por 15 a 20 anos.

Tapada de Coelheiros tinto 2013
Região: Reg. Alentejano
Produtor: Herdade de Coelheiros
Enologia: Luís Patrão (à data era António Saramago)
Castas: Cabernet Sauvignon e Alicante Bouschet
PVP: €30
Um tinto muito bem afinado, polido de taninos e rico, cheio de classe.
Dica: muito prazer a beber agora mas cheio de futuro. Deverá por isso ser também guardado.

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