Setúbal dá um passo em frente Tal como tinha anunciado na semana passada é hoje…
Monte d’Oiro – 20 anos já lá vão
Por terras de Syrah e Viogner, com vento e mar
Quando a quinta do Monte d’Oiro iniciou a produção, José Bento dos Santos ainda era relativamente desconhecido dos enófilos; eu próprio fiquei muito admirado quando li um artigo de Alfredo Barroso num jornal relatando um jantar magnífico em que tinha estado presente o então presidente Soares e que tinha sido regado com uns vinhos do outro mundo. Vim pouco depois a saber que tinha sido na quinta e que ao comando dos tachos estava José Bento, já então com muitos anos de prática culinária e, mais genericamente, gastronómica. Conheci-o pessoalmente na garrafeira Coisas do Arco do Vinho, em Belém, e cinco minutos depois estávamos a falar de receitas, na altura a dar-lhe conta de uma que eu ensaiara e que muito particularmente o surpreendeu, um faisão estufado em borras de Vinho do Porto. Desde então gerou-se uma entre nós uma colaboração/cumplicidade – escreveu durante muito tempo na mesma revista que eu – e a sua imagem ganhou mais reconhecimento na TV e nos livros que publicou. Entretanto o seu filho Francisco tomou as rédeas da quinta, assegurando assim o futuro. Ali, perto da Merceana, nasceram os primeiros vinhos de Viognier e dos primeiros Syrah que por cá se fizeram. A primeira edição do tinto surgiu em 1997 e ganhou foros de novidade, dada a inspiração que vinha das Côtes-du-Rhône onde o seu amigo Michel Chapoutier, grande figura da região, lhe fazia chegar conselhos e incentivos. Os primeiros vinhos a fazerem-se notar foram os tintos mas os brancos ganharam também notoriedade, dado que a Viognier era casta desconhecida entre nós e estava então em fase de recuperação, uma vez que tinha estado à beira da extinção. Excelente comunicador e conhecedor da gastronomia internacional e dos melhores vinhos do mundo, frequentador de restaurantes estrelados e amigo de muitos dos mais famosos Chefs, José Bento é também um oficiante de tachos, recorrendo com frequência à sua enorme colecção de livros de cozinha mas também criando, interpretando e inovando com frequência. A quinta, além de terra produtora de vinhos, virou também ponto de encontro de amigos, recebidos quase sempre com uma enorme ventania que tem tanto de irritante como de benéfica, já que ajuda a limpar as uvas em dias de chuva. Para comemorar os 20 anos, Francisco promoveu uma prova de alguns vinhos da quinta, terminando no mais antigo, o 1997, que se mostrou em muito boa forma. Por aqui, beneficiando da proximidade do mar – 20 km em linha recta – obtêm-se sempre vinhos elegantes e finos, resultado do melhor conhecimento que se tem agora de todas as parcelas da vinha, após a análise exaustiva do solo. Com toda a quinta mapeada e em agricultura biológica é mais fácil decidir e organizar o portefólio, ainda que, por exemplo, existam vários vinhos feitos com a casta Syrah. São por vezes, ao nariz do enófilo, distinções de pormenor mas para o produtor são diferenças sempre significativas. Vinte anos passaram num instante mas os vinhos, finos, elegantes e muito equilibrados, aí estão para mostrar a vitalidade do projecto.
Sugestões da semana:
(Os preços, meramente indicativos, foram fornecidos pelo produtor)
Quinta do Monte d’Oiro Madrigal branco 2015
Região: Reg. Lisboa
Produtor: José Bento dos Santos
Enologia: Graça Gonçalves
Casta: Viognier
PVP: €19
Um ano de garrafa só lhe fez bem, rico na fruta, ainda austero e com anos pela frente.
Dica: por norma evolui muito bem em cave. Conserve assim algumas garrafas para prazeres futuros.
Quinta do Monte d’Oiro Lybra Syrah tinto 2014
Região: Reg. Lisboa
Produtor: José Bento dos Santos
Enologia: Graça Gonçalves
Casta: Syrah
PVP: €10
Tem origem em várias parcelas de Syrah. Estagia apenas em barricas usadas.
Dica: muito boa frescura aromática, elegante e a dar muito boa prova de boca.
Quinta do Monte d’Oiro Reserva tinto 2013
Região: Reg. Lisboa
Produtor: José Bento dos Santos
Enologia: Graça Gonçalves
Casta: Syrah
PVP: €32 (no mercado em Outubro)
Muita pureza de fruta, concentrado mas elegante, rico e bem complexo.
Dica: requintado, requer copos largos e temperatura certa, a rondar os 17º.
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