Pelas cepas mas também pelas bichas Janeiro é suposto ser uma época de clima frio,…
Para as vinhas e em força…
2017? Mais atípico seria difícil.
Em anterior crónica já tinha dado o sinal: as vindimas iam começar mais cedo. Assim foi e não foi “mais cedo”, foi mesmo muito mais cedo, com quase toda a gente a começar cerca de três semanas antes do previsto. Um pequeno produtor do Alentejo com quem falei acabou a vindima no fim-de-semana passado. Ora, se pensarmos que estamos aqui a falar no Alentejo mais fresco (Portalegre) e que em condições normais até poderia ter vindimas mais tardias, já se percebe que estamos perante uma vindima totalmente atípica. O imenso calor que pôs o país a arder também teve um efeito nas uvas, que desidrataram, perdendo sumo e originando a paragem da maturação. Isto significa menor produção, embora se possa traduzir depois em bons mostos para vinhos tintos, com mais concentração de cor e compostos fenólicos. Mas para que tudo seja mesmo ao contrário do que os livros ensinam, o que é que temos à entrada da adega? Mostos com um potencial alcoólico exagerado mas ao mesmo tempo uma acidez demasiado elevada, com muita possibilidade de acidez volátil elevada. Nada disto é bom porque se para baixar o grau se cair na tentação de juntar (muita) água ao mosto estaremos a transformar o vinho numa beberagem sem graça. E não é isto que os livros ensinam. Lá, bem explicadinho, diz-se que o calor do Verão vai degradando a acidez e aumentando gradualmente o teor de açúcar dos bagos e que a vindima se deverá fazer quando o equilíbrio entre os vários compostos for considerado ideal. Ora, como é que os livros conseguem explicar que numa encosta virada a norte (portanto menos soalheira), se colham em Agosto uvas tintas com 16 e 16,5º de álcool provável? Muitos produtores vão dar o assunto vindimas por terminado quando noutros anos, no mesmo período, mal tinham ainda começado. A um vinho com muito álcool e muita acidez chamamos um vinho desequilibrado e tudo isto vai obrigar os enólogos a uma intervenção muito para além da que gostam de comunicar. Deixar o vinho fazer-se por si, intervir de forma minimalista e outros conceitos sempre bonitos de ouvir, vão ter de ficar muito provavelmente na gaveta este ano. Para muitos, o assunto ainda vai em meio (nomeadamente no Vinho do Porto) e são esperadas chuvas que poderão complicar o que por si já não está fácil. Tudo a confirmar que não há duas vindimas iguais. Num aspecto todos estão de acordo: do ponto de vista sanitário era difícil ter ano com uvas mais sãs que este. Já não é nada mau. As quantidades vão ressentir-se e sobre a qualidade final é ainda cedo para adiantar grandes conclusões. A antecipação das vindimas terá gerado também grandes confusões a nível do pessoal contratado que não estava previsto estar disponível tão cedo. A bem dizer, quem foi que falou que a vida do agricultor vinhateiro era estar sentado à porta da adega a contar notas de cem? Afinal é um tormento, e dos grandes!
Sugestões da semana:
(Os preços referem-se à Garrafeira de Campo de Ourique em Lisboa))
Head Rock Colh. Selecc. branco 2016
Região: Trás-os-Montes
Produtor: Carlos Bastos
Enologia: Pedro Pereira/Carlos Bastos
Castas: Alvarinho e Gouveio
PVP: €11
O vinho é muito fresco e de excelente acidez, um branco de Verão.
Dica: perfeito para mariscos e outros petiscos estivais
Chronicle Vineyards branco 2016
Região: Douro
Produtor: Amílcar Lopes
Enologia: Pedro Hipólito
Castas: lote de várias castas da região
PVP: €13,75
Citrinos maduros, um branco tradicional, no bom sentido. Muito gastronómico.
Dica: um vinho que não merece guarda, é agora, e à mesa, que pode brilhar.
Quinta Nogueira Reserva branco 2015
Região: Reg. Lisboa
Produtor: Romana Vini
Enologia: António Ventura
Castas: Sauvignon Blanc, Arinto e Chardonnay
PVP: €17,50
Dominam o Chardonnay e o Sauvignon Blanc; totalmente fermentado em barrica.
Dica: o estilo é mais gordo e cheio mas mantém a frescura. Bem interessante.
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